Tratar da carapinha
Afonso Loureiro
As angolanas adoram tratar do cabelo e variar os penteados. Salões de beleza, sempre cheios, são visão corrente nas ruas principais dos bairros, mas nos quintais mais sossegados, à sombra da mangueira, é costume ver as mulheres fazer trancinhas umas às outras.
Nos fins-de-semana de tratar da carapinha, como lhes chamam, as primas, irmãs e tias revezam-se a entrançar os cabelos de uma sortuda. Como fazer centenas de pequenas tranças é extenuante, trabalham em equipa, mas vão sugerindo opções para abreviar o esforço «Tens o cabelo muito comprido, devias cortar… Ficava mais bonito se pintasses. Se quiseres trato disso.»
Posto de venda de postiços
Na rua vendem-se os postiços, extensões de cabelo mais ou menos natural que complementam o penteado novo. O cabelo brasileiro faz sucesso e permite que cada uma ostente o cabelo comprido que todos acham desejável.
Mulheres de cabelo curto são olhadas de lado. Os homens não gostam de as ver assim e as outras mulheres dizem que parecem bandidas. Aliás, as filhas mais rebeldes, se começam a dar muito trabalho à mãe, arriscam-se a uma tosquia radical que as vai fazer perder a vontade de sair à rua. Se saírem, mesmo com um chapéu, já sabem que «vão lhes estigar». Nada como um golpe na vaidade para fazer acalmar.
“vão lhes estigar”… Brilhante!
Cabelos bonitos…
-Manda banga!