Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

30  04 2010

Quem paga, afinal?

Em 2008, com o petróleo em alta, havia mais dinheiro do que aquele que se conseguia gastar e as empreitadas adjudicadas eram a perder de vista. O crescimento económico era dos maiores do mundo, sem previsões de abrandamento.

No ano seguinte chegou a crise dos fundos especulativos e os cofres do Banco de Angola secaram de tal maneira que se passou a dar importância ao dinheiro que se desviava, coisa que até então não causaria grande mossa. Os pagamentos às construtoras foram sendo adiados, fazendo as dívidas acumular-se até ascenderam a vários milhares de milhão de dólares. As obras começaram a parar por falta de pagamento e algumas empresas repatriaram centenas de trabalhadores estrangeiros e despediram dezenas de milhar de angolanos.

Este ano, o governo angolano anunciou que vai, finalmente, começar a pagar estas dívidas e explicita ainda que começará pelas construtoras portuguesas. Fiquei a matutar no assunto e não consegui perceber a razão dessa preferência nem de onde viria esse dinheiro, uma vez que tais montantes parecem não existir nos cofres do Estado.

Obras
Em obras

Fez-se-me luz uns dias mais tarde, quando soube que Angola se vai socorrer dos 500 milhões de euros emprestados por Portugal para o efeito. Se bem percebo, Portugal paga as dívidas às empresas portuguesas, tornando-se credor de Angola e esperando que daqui a uns anos não tenha de perdoar dívidas incobráveis, como aconteceu anteriormente. Fico sem saber quem paga a factura, afinal.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

5 respostas a “Quem paga, afinal?”

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  1. Logicamente serão os tugas, ex-colonos, que assim irão ressarcindo Angola de 500 anos de exploração colonialista e de opressão e blá-blá-blá-blá….

  2. E entretanto os novos colonos, de cor de pele politicamente correcta, vão enchendo os bolsos, blá-blá-blá-blá…

  3. Neste caso não sei bem. Empréstimos tão grandes costumam ser segurados e ressegurados. Mas como as grandes seguradoras também faliram com as aventuras do subprime, isto ficou ainda mais complicado.

  4. Sim, mas no fundo quem se irá atravessar serão as companhias de seguros portuguesas, por óbvias razões de estratégia política e no fundo. É triste que os meninos do costume continuem a vociferar contra os Tugas. Já é tempo de terem comportamentos adultos.
    Basta ver o que está a fazer o governo de Moçambique e o peso do investimento português naquele país.

  5. Por muito que digam mal dos Tugas, Portugal é o único que empresta a Angola sem contra-partidas palpáveis. Tirando as mercadorias portuguesas, tudo o resto tem de ser pago antes do embarque. A China tem emprestado muito dinheiro, mas faz-se pagar adiantado em géneros.

    Os novos colonos, de cor política e cor de pele mais apropriada à conjuntura, certamente que não perderão a oportunidade de mostrar uns carros e aviões novos.

    Quanto a Moçambique, ainda esta semana foi perdoada uma dívida antiga, de cerca de 300 milhões de dólares. Quase uma migalha quando comparada com a dívida angolana, com maior risco de não ser paga.

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