Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

22  09 2010

O roubo de azulejos

Como a inspiração para cada artigo surge de onde menos espero, a deste surgiu na visita à tipografia para tratar do tão esperado livro, que implicou uma passagem pelo Campo de Santa Clara, onde encontrei restos do lixo que alguns vendem na Feira da Ladra para sustentar vícios vários.

Nos canteiros à volta das árvores do parque de estacionamento há pedaços de azulejos azuis e brancos. São o que resta dos frequentes assaltos às fachadas dos edifícios devolutos e ermidas remotas. Alguém descobriu uma mina de dinheiro fácil ao vender separadamente fachadas inteiras.

Um azulejo isolado costuma ser um objecto bonito e acessível, mesmo que apresente apenas um pormenor do desenho completo, e esse é o grande atractivo do negócio. Quem compra, julga comprar apenas um azulejo perdido e não associa esse gesto às fachadas vandalizadas nos bairros mais antigos. Quem vende, sabe que pode repetir o negócio centenas de vezes.

Cozinha vandalizada
Dos azulejos sobra a argamassa

O impacto no património seria menor se quem vendesse os azulejos roubados o fizesse em painéis inteiros, mas isso implicaria mais riscos e chatices. Por essa mesma razão, se alguns se partirem durante o arranque, o ladrão não se preocupa. Os que sobrarem serão sempre lucro.

Azulejos partidos
Azulejos partidos

Um azulejo de cada vez transporta-se com facilidade e garante dinheiro suficiente para o dia. A pouco e pouco, o património desaparece, espalhado ao acaso, sem deixar rasto.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

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