Aerograma

Com um pouco mais de tempo nas mãos, retomei o trabalho na electrónica. Alguns projectos ficaram em suspenso, incompletos, esperando por vagar ou inspiração. Outros nem sequer passaram de um plano e alguns componentes separados. O plano perdeu-se na mudança e agora restam apenas as peças, sem que uma memória ténue do seu propósito tenha resistido.

Um dos mais prementes, que é como quem diz, já aguardava resolução um ano antes de partir para Angola era a estranha avaria do multímetro. De um da para o outro resolveu fazer greve. Com o mais importante instrumento avariado, os diagnósticos tornaram-se difíceis. As contas dizem quanta corrente e tensão se deve esperar em certos pontos do circuito, mas sem a possibilidade de as medir directamente, há algumas avarias impossíveis de resolver. Concluí que o multímetro necessitaria de um multímetro para ser reparado. Mas, se comprasse um novo multímetro, este perderia o seu propósito. Para além disso, este custou-me nove contos há quinze anos e não me estava a apetecer deitá-lo fora.

Felizmente que há problemas que se resolvem por si mesmos. Os longos anos de espera tornaram a avaria mais evidente. Um pequeno condensador electrolítico tinha entregue a alma ao criador e agora começava a verter o conteúdo para o circuito.

O culpado

Dois toques com o ferro de soldar e o chupa-solda, um alicate a ajudar e o defunto deixou o espaço livre para um novo e mais competente condensador.

O substituto

À falta de substituto do mesmo tamanho, o novo condensador foi montado à alentejana, deitadinho e aconchegado entre outros componentes. Com dois pontos de solda e uma bateria nova, o aparelho voltou à vida, como se nunca tivesse estado avariado.

Já funciona!

Com um sorriso de orelha a orelha, fui medir resistências e dar palmadinhas nas costas a mim mesmo.