Numerações
Afonso Loureiro
Quando as relações humanas deixaram de se limitar à vizinhança mais próxima e começaram a incluir desconhecidos e intermediários para as comunicações, só o nome deixou de ser a forma infalível de encontrar alguém e inventaram-se as moradas, cada vez mais complexas.
O Fulano de São Miguel da Galafura tornou-se morador da Rua do Meio de São Miguel da Galafura e, mais tarde, passou-se a precisar que era na porta nº 6, porque o carteiro já não conhecia as pessoas pelo nome. A seguir teve de se juntar à morada um código postal, não fosse haver mais do que uma São Miguel da Galafura no mundo. Fulano, Sicrano e Beltrano passaram a viver em locais codificados com números de porta, códigos postais e outras inovações.
À primeira vista, a numeração das portas poderia significar apenas uma alteração fundamental na forma como se encaram as relações humanas, mas a verdade é que os vizinhos continuam a conhecer-se e os estranhos encontram quem procuram com maior facilidade. E, às vezes, podem até usar os números de polícia para se orientarem em cidades desconhecidas.
Quando visitamos uma cidade nova devemos ter o cuidado de procurar alguns pontos de referência, para o caso de nos perdermos. Nas grandes cidades europeias, quase sempre planas, as ruas podem parecer todas iguais e há poucas oportunidades de espreitar sobre os telhados à procura de monumentos importantes. As cidades portuguesas, quase todas nascidas em encostas e de uma dimensão mais humana, por assim dizer, não pecam nesta matéria.
Nestas alturas, mesmo que não tenhamos um mapa à mão ou não saibamos os nomes das ruas, os números das portas podem ajudar-nos a decidir qual o rumo a seguir. Em Lisboa, salvo raríssimas excepções, os números de polícia crescem do Rio Tejo para norte ou oeste, acompanhando o abraço do rio à cidade. É fácil seguir os números por ordem decrescente, de rua em rua, até chegar ao rio e, a partir daí, encontrar outros pontos de referência. Esta orientação é a seguida na maioria das cidades portuguesas, embora o destino de semelhante navegação numérica seja mais imprevisível.
Ornamento numerado
Já em Espanha é hábito os números das portas crescerem de forma radial em relação à Plaza Mayor de cada cidade. Mesmo que estejamos perdidos, podemos sempre aplicar a mesma técnica e chegar ao caroço da cidade.
Muitos municípios limitam-se a atribuir números consecutivos, pares ou ímpares consoante o lado da rua, a cada porta. Permitem referenciar cada casa, mas há outros sistemas que acrescentam muito mais informação. Nalgumas cidades, o número da porta corresponde à distância desde o início da rua, o que permite saber imediatamente em que ponto se situa determinada morada ou, caso andemos à procura do princípio da rua, saber quanto falta percorrer. Não é possível, infelizmente, saber quanto falta para o final.
Conheço bem essa teoria, mas perco-me sempre:)
Gostei de ler.
Bom domingo