Para confundir os turistas
Afonso Loureiro
A dada altura, para evitar embaraçosas cabeçadas em portas que abrem para direcções inesperadas ou podem ser abertas por gente descuidada que não se inibe de nos dar com uma porta em cheio e nem sequer pedir desculpa, convencionou-se que um letreiro de cada lado seria a solução. Desde que as pessoas saibam ler e prestem o mínimo de atenção ao que fazem, estes letreiro funcionam.
As portas de espaços públicos passaram a estar ornamentadas com PUXE e EMPURRE nas línguas de cada país. Os viajantes já o sabem e, mesmo que não conheçam a língua, depressa aprendem o que cada texto quer dizer. Na Alemanha um ZIEHEN ou um DRÜCKEN só nos confundem uma vez, mas quem está distraído talvez faça as ocasionais figuras tristes em França quando tenta puxar uma porta que diz POUSSEZ.
Os turistas estrangeiros que visitam Portugal também se habituam depressa aos letreiros em português nas portas que indicam se são de puxar ou de empurrar. Ainda por cima estão com sorte, porque nesta terra onde se gosta de assassinar a língua, há muitos que insistem em acrescentar uma tradução para inglês.
Mas há um pequeno cantinho neste Portugal que se recusa vender a este internacionalismo, qual irredutível aldeia gaulesa notabilizada pela banda desenhada. Os estrangeiros não têm a vida facilitada quando chegam ao Porto. Muitos monumentos não têm os habituais letreiros nas portas ou, quando os têm, precisam de mais discernimento do que decorar o PUXE e EMPURRE.
Basta ir à Igreja da Lapa, onde está guardado o coração de D. Pedro IV, oferecido pelo próprio – ainda em vida obviamente – para depararmos com uma armadilha para turistas. O letreiro adverte apenas que a porta abre para fora.
Esta não vem nos guias
O turista pode querer visitar, mas vai ter de puxar pelo cérebro para perceber como se abre a porta.
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