Inquilinos permanentes
Afonso Loureiro
Qualquer igreja com mais do que alguns séculos de história em razoável estado de conservação e que não tenha sofrido obras de mau gosto, tem o seu chão repleto de inscrições. Durante muitos séculos os funerais realizavam-se dentro das próprias igrejas, mas só de quem tinha posses para isso, obviamente.
Os nomes inscritos há que foram esquecidos. Poucos podem afirmar que as ossadas de um seu antepassado ali estão, porque a memória dos vivos perde-se com as gerações. Só os nomes não despertam memórias que não existem.
Mas as datas, essas sim, dizem-nos muito. Dizem-nos que houve anos de maior mortandade, dizem-nos que aquelas paredes já existiam nessa data e dizem-nos, sobretudo, que houve gente com sonhos próprios que viveu e morre por ali. Mesmo que os nomes nada nos digam, podemos inventar-lhes uma cara e pensar como seria a sua vida naquela época.
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