Búzios, jarras, canas e outros comandos à distância
Afonso Loureiro
Começam a rarear as pessoas que se recordem de ouvir os moinhos de vento do Oeste. Moinhos a trabalhar só os recuperados pelas câmaras municipais com fins turísticos e mesmo estes só moem com visitas programadas.
Os moinhos de vento não se limitavam a decorar os montes e a fazer farinha. Davam também música a quem passava, mas especialmente ao moleiro, que podia ir a casa enquanto deixava a farinha a moer e saber se o vento mudava só pelo som que os búzios faziam. Um verdadeiro controlo à distância.
Assobiam ao vento
Para produzir o som amarravam-se várias dezenas de cabaças, peças de lata ou barro e até mesmo de cana, embora estas últimas se dissesse trazer má sorte, nos mastros e nas travadoiras, as cordas que unem as pontas dos mastros. Os canudos eram meros cones de zinco, abertos nas duas pontas. Os búzios e as jarras eram habitualmente de barro e moldados em várias capacidades. Os maiores costumavam aproximar-se dos vinte litros. Cada moinho era afinado de forma a conseguir um som harmonioso. Suspeito que um moleiro pudesse insultar um colega de profissão ao insinuar que o moinho tinha voz de cana rachada.
Para além de fazerem um barulho que variava em função da velocidade do vento e da rotação das velas, os búzios de barro absorviam humidade do ar, o que fazia o seu timbre mudar algum tempo antes de chegar uma borrasca. O moleiro sabia que tinha de recolher as velas ou reduzir o pano.
O último sistema de controlo à distância do moinho consistia num simples chocalho que se colocava na tegão com o cereal. Durante a noite, o moleiro escusava de estar sempre a acordar, subir a escada e verificar se já tinha moído tudo e a gastar as mós sem necessidade. Assim que o tegão estava vazio o chocalho caía sobre a mó e o seu barulho irritante acabava por acordar o moleiro.
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