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09
2011
Vizinhança impessoal
Afonso Loureiro
O símbolo do progresso de há umas décadas eram os prédios com muitos apartamentos. Quantos mais, melhor. O construtor agradecia porque o terreno custava o mesmo.
Mas com tanta gente a morar no mesmo sítio que se cruza apenas à entrada e à saída, as vizinhanças não se chegam a formar. Há apartamentos que mudam duas ou três vezes de inquilino antes de outro vizinho com eles se cruzar. Ainda por cima, com pisos todos iguais, é difícil fixar quem mora onde.
Campainhas ou acordeão
Alguns destes edifícios, como as famosas torres de Santo António dos Cavaleiros têm tantas fracções que acabam por criar verdadeiros bairros verticais onde ninguém se conhece.
Mas as campainhas, essas, fariam as delícias de miúdos traquinas.
A grande vantagem dessas “aldeias verticais” (como são conhecidos os prédios em Hong Kong, por exemplo) é o facto de serem muito mais baratas de construir e assim dar oportunidade a mais gente de comprar a própria casa. O preço a pagar por trocar as agruras da vida no campo pelas oportunidades que a cidade proporcionava era justamente viver em ambiente urbano e deixar o minifúndio para trás.
Quanto às vizinhanças: a responsabilidade de investir e manter uma boa vizinhança depende das próprias pessoas – vizinhos dão-se bem e mal em qualquer parte do mundo e em qualquer tipo de habitação. Fiz amigos no prédio onde vivi até aos 23 anos e com os quais ainda falo 5 anos depois de emigrar. Em contrapartida, não posso ver – nem pintada de ouro – a mulher que vivia na vivenda em frente à minha (em Lisboa) cujo principal passatempo era chatear-me a cabeça. É tudo uma questão de postura na vida…
É essa realmente a grande vantagem, a do preço. Mas olha que aquelas campainhas devem ser a delícia dos putos.
E o que dizer dos elevadores? Qual o reguila que não encravou já alguém?
Há trinta e alguns anos, no meu prédio, a engenharia do sobe e desce eléctrico estava a nosso cargo! Como sabía-mos prender, também sabía-mos como voltar a fazê-los andar e então, em vez de um puxão de orelhas recebía-mos presentes…