Compromisso entre picos e pombos
Afonso Loureiro
Ainda não há muito tempo se decoravam as fachadas dos prédios com esculturas. Serviam para quebrar a monotonia dos grandes volumes cheios de faces direitas, semelhantes blocos industriais austeros.
Estas esculturas devolviam uma faceta humana à construção, mas pouca atenção se dava aos pombos ou, pelo menos, tolerava-se-lhes tomarem as estátuas por poleiros.
Infelizmente, a população de pombos assilvestrados dentro das cidades cresceu de forma quase incontrolável e poucos são os que nidificam nos pombais da periferia. Agora, qualquer cornija ou saliência minimamente abrigadas serve para construir um ninho ou pernoitar.
Por outro lado, com o fim das porteiras, deixou de haver que se ocupasse da limpeza regular e cuidada dos edifícios. Hoje contrata-se quem lave as escadas de fugida uma ou duas vezes por semana e mais nada.
Mais picos escondiam a escultura
A solução encontrada por alguns é a aplicação dos espigões anti-pombo em todas as saliências passíveis de se tornarem poleiros. À distância estes espigões tornam-se invisíveis, mas há quem insista em aplicá-los quase à altura dos olhos, transformando estátuas e peitoris em ridículas camas de faquir.
Numa destas esculturas espinhosas para os lados de Entrecampos fico na dúvida se se acabaram os espigões ou se começaram a achar que proteger todas as superfícies a acabariam por tornar num ouriço. Pelo menos não puseram picos na pomba que a ninfa segura.
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