Resquício de ruralidade
Afonso Loureiro
Físicamente, a Queluz em que cresci era bastante parecida com a actual. Para além da expansão de Massamá e Monte Abraão, no centro da vila só surgiu um bairro novo – o Casal das Quintelas. Mas muitas outras coisas mudaram. Grande parte dos terrenos agrícolas, quase todos localizados em Massamá e Monte Abraão, desapareceram ou foram abandonados. A própria escola agrícola, que costumava plantar trigo junto aos muros do Palácio, fechou e a estação de ensaio de sementes mudou-se para o outro lado da EN 249.
O fim desta ruralidade às portas de Lisboa ditou também o fecho dos armazéns da Federação Nacional dos Produtores de Trigo, organização fundada no já longínquo ano de 1933. Mudou de nome em 1972 e foi extinta definitivamente em 1977. Este armazém continuou a funcionar como cooperativa, vendendo adubos, alfaias e rações.
FNPT
Os velhos armazéns estão agora vazios. Já não cheira a rações e a milho moído quando se passa junto à porta nem vejo o caixa de óculos garrafais a atender os clientes no que parecia ser uma pequena cabine telefónica torcida.
Sem agricultores nas redondezas não fazia sentido manter as portas abertas.
E estão agora à venda por uma módica quantia que dava para comprar Queluz inteiro..
Como seria de esperar, terreno agrícola cedido pelo estado há 80 anos e vendido baratinho há 40, fica agora no meio da cidade e tem um valor de prémio do Euromilhões.