Chuva, chuvinha, sarjeta entupida
Afonso Loureiro
Sempre que leio colunas de opinião a reclamar da falta de limpeza das sarjetas que causa inundações nas primeiras chuvas do ano, não resisto a comparar com as notícias de igual teor que lia em Luanda. De facto, trocar o nome das cidades é o suficiente para que as notícias se adaptem a cada uma.
A última chuvada na zona mostrou outro fenómeno para além das sarjetas entupidas. Mostrou que a impermeabilização dos terrenos e o corte das linhas de água naturais só causa desgraças. Mas não é presenciando as inundações nos dias de chuva que se aprende. É pensando como evitar inundações mesmo com sarjetas entupidas.
Como exemplo desta falta de visão, posso citar o estudo de impacto ambiental da nova expansão urbanística de Massamá, que inclui um parágrafo acerca do corte de uma linha de água. Parafraseando de memória é algo como «a linha de água mais importante é a ribeira do Serrado da Bica, que só tem caudal no Inverno, por isso não há problema em ser cortada». Curiosamente, esta linha de água começa na cota do lençol freático que alimenta a fonte de Rocanes, umas centenas de metros mais a oeste. E no Inverno comporta-se como uma exsurgência. Não é preciso pensar muito para descobrir a falha de raciocínio.
Para além de se esquecerem de que a água não corre só à superfície, depois de lá construírem os próximos prédios, para onde vai a água que costumava lá correr no inverno? Talvez se junte à restante que corre pelas ruas porque se construíram paredões em volta das ribeiras para que a água não saia – mas também não entre.
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