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22  07 2012

Tony e os trolhas

Uma das principais razões porque não aprecio filmes musicais, em especial os americanos, que tentam recriar uma peça da Broadway num cenário real, é porque não encontro justificação nenhuma para que as pessoas desatem em cantoria ao virar de cada esquina discorrendo sobre os assuntos mais banais. Para além disso, num palco parece-me apropriado que todos os figurantes sabiam a coreografia de trás para a frente, mas se o mesmo acontece aos passegeiros do Sud-Express ao chegar a Santa Apolónia, já não sinto que seja normal.

Quando digo que não gosto de musicais, há sempre alguém que me pergunta porquê. Costumo invocar os argumentos anteriores e mais um, o de que ainda não assisti a nenhuma serenata coordenada de trolhas empoleirados num andaime, que é uma cena comum nos musicais. Imagine-se uma dúzia de trolhas em vários andares de um andaime que cobre a fachada de um edifício. Quem diz trolhas pode dizer estivadores, mineiros, gatos dos telhados ou outras criaturas. O importante é que um comece a melodia e outros, espalhados no fundo da cena como notas numa pauta, vão acrescentando elementos.

Infelizmente, o que me parecia impossível de reproduzir fora do cativeiro do palco ou do estúdio de cinema, aconteceu lá na faculdade. Os trolhas que habitam o andaime do edifício C5 revelaram-se grandes conhecedores da obra de Tony Carreira e, nos dias de maior inspiração, cantam-no em coro às mulheres que passam.

Trolhas cantam Tony Carreira
O que está de costas assobia a melodia, o do telhado canta o princípio e o terceiro canta o refrão

Começa com um a assobiar a melodia. Outro acrescenta o princípio da letra e, quando damos por isso, mais dois se juntam com o refrão, não muito afinados, mas o que conta é a intenção. Quem atravessa o logadouro pode quase imaginar que entrou por engano num filme musical, cheio de gente a cantar em situações despropositadas. Talvez só a música produzida pela bomba de betão e os martelos pneumáticos destoe um pouco.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

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