Nervosismo
Afonso Loureiro
Os seguranças lá em baixo costumam ter uma vida regalada. Durante a maior parte dos dias nada acontece.
Nas últimas duas Sextas-feiras de cada mês, tudo muda. Desde manhã cedo que ostentam uma nova ferramenta de trabalho, a AK-47 ou uma pistola-metralhadora ligeira.
As confusões que se geram nos estabelecimentos de diversão nocturna costumam intensificar-se com a chegada do dinheiro dos salários. Mais vale prevenir que remediar.
Na última semana do mês, o turno da noite traz sempre a arma. Os coletes à prova-de-bala passam a estar visíveis e fazem-me pensar se serão só para compôr a figura, ou se terão mesmo justificação.
Quando os dias para o fim do mês se começam a contar com os dedos de uma mão, o nervosismo aumenta. Ao passar um grupo de arruaceiros barulhentos a disparar alarmes de carros, gritar e a comportarem-se como rufias de baixa categoria, as risadas habituais dos seguranças cessam. Ao longo de toda a rua se vão vendo as cadeiras a ficar desocupadas e os passeios cobertos de fardas castanhas. Uns tiram a arma do ombro e deixam-na na ponta do braço caído. Outros embalam-na com o dedo apoiado na guarda do gatilho. Fazem caras fechadas e sérias. A tensão cresce e o barulho no meio da rua esmorece. O grupo avança um pouco mais depressa. Assim que mudam de quarteirão, o problema passou para os seguranças seguintes. A arma de cada um volta a repousar na bandoleira que dá a volta ao ombro. As cadeiras, que ainda não arrefeceram, voltam a ser ocupadas e os jogos e conversas são retomados. Até ao próximo grupo. Hoje, ou daqui a uns dias.
Uns minutos depois voltam-se a ouvir as risadas e as histórias que, imagino, são contadas com um grande sorriso.
Mais tarde, só o cacarejar intermitente dos rádios interrompe o silêncio.
Amanhã é outro dia. Pode ser que o fim do mês já esteja longe outra vez.
Têm uma semana para justificar os seus postos de trabalho… esperemos que façam o seu melhor.
Afinal, os seguranças têm razão para gastar a maior parte do tempo numa morna quietude. É preciso acumular energia para os “dias quentes”, até que os ânimos arrefeçam e o dinheiro se evapore.
Desejo que os teus dias sejam sempre de bonança.
Um caloroso abraaaaaaço.