Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

30  03 2010

Barómetro económico

Quando o dinheiro circulava com facilidade, na altura da alta do petróleo, a barra do porto de Luanda estava cheia de barcos de todos os tamanhos. Graneleiros, petroleiros e porta-contentores ficavam ancorados em volta da ilha do Cabo e em frente à Praia de São Tiago, esperando semanas para poder descarregar. Apenas os que traziam cargas refrigeradas ou perecíveis tinham prioridade.

Entrada do porto

No tempo das vacas gordas

Nos dias em que sobrevoávamos o norte da cidade e esperávamos por autorização para aterrar, contar navios era uma maneira de passar o tempo. Quase sempre desistíamos depois da primeira centena. Angola crescia ao sabor da cotação do petróleo, entusiasmando os investidores.

Navios ancorados

A perder de vista

Depois veio a crise. A grande liquidez que estimulava o crescimento económico desapareceu. O dinheiro, que até então aparecia mais depressa do que se conseguia gastar, começou a faltar e os desvios em que não se queria reparar passaram a ser de tal forma evidentes que o banco central angolano tomou atitudes drásticas. Alguns meses volvidos, com transferências para o exterior muito controladas e a retirada de milhões de dólares de circulação, o porto ficou vazio. Ninguém vende fiado a Angola.

A barra ficou irreconhecível, com os ancoradouros vazios e os cais desocupados. Apenas os batelões das obras da baía e os iates dos clubes náuticos faziam crer que ali havia actividade marítima.

boavista
O Porto volta a ter actividade

Lentamente, os barcos começaram a voltar, porque o país importa quase tudo o que consome, mas já não se vêem tantos porta-contentores ou transportes de carros. Os graneleiros e navios-cisterna são a maioria, o que sugere uma maior importação de matérias primas e menos produtos acabados. Poderá significar o despertar do tecido industrial angolano e o início de um crescimento sustentado na produção efectiva de riqueza em vez de depender exclusivamente do petróleo.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

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