Barómetro económico
Afonso Loureiro
Quando o dinheiro circulava com facilidade, na altura da alta do petróleo, a barra do porto de Luanda estava cheia de barcos de todos os tamanhos. Graneleiros, petroleiros e porta-contentores ficavam ancorados em volta da ilha do Cabo e em frente à Praia de São Tiago, esperando semanas para poder descarregar. Apenas os que traziam cargas refrigeradas ou perecíveis tinham prioridade.
No tempo das vacas gordas
Nos dias em que sobrevoávamos o norte da cidade e esperávamos por autorização para aterrar, contar navios era uma maneira de passar o tempo. Quase sempre desistíamos depois da primeira centena. Angola crescia ao sabor da cotação do petróleo, entusiasmando os investidores.
A perder de vista
Depois veio a crise. A grande liquidez que estimulava o crescimento económico desapareceu. O dinheiro, que até então aparecia mais depressa do que se conseguia gastar, começou a faltar e os desvios em que não se queria reparar passaram a ser de tal forma evidentes que o banco central angolano tomou atitudes drásticas. Alguns meses volvidos, com transferências para o exterior muito controladas e a retirada de milhões de dólares de circulação, o porto ficou vazio. Ninguém vende fiado a Angola.
A barra ficou irreconhecível, com os ancoradouros vazios e os cais desocupados. Apenas os batelões das obras da baía e os iates dos clubes náuticos faziam crer que ali havia actividade marítima.
O Porto volta a ter actividade
Lentamente, os barcos começaram a voltar, porque o país importa quase tudo o que consome, mas já não se vêem tantos porta-contentores ou transportes de carros. Os graneleiros e navios-cisterna são a maioria, o que sugere uma maior importação de matérias primas e menos produtos acabados. Poderá significar o despertar do tecido industrial angolano e o início de um crescimento sustentado na produção efectiva de riqueza em vez de depender exclusivamente do petróleo.
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