Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

08 2008

Remendos

Ainda há uns dias estava em a pensar que as coisas se iam compondo, com a montagem da bomba, com a instalação da rede mosquiteira e com o fim das obras na rua.

Acontece que uma pequena avaria no circuito eléctrico cá de casa me fez ir conhecer a vida secreta do cobre que nos dá os confortos da vida moderna.

A nossa casa não tem contador eléctrico. Os consumos são feitos por estimativa, para evitar as esquivas. Temos, no entanto, um armário onde deveria estar o contador. Tem uma porta de vidro pintado de azul, que esconde um disjuntor trifásico. Como temos um gerador, há um comutador da rede normal para a rede de emergência antes do quadro. Até aqui tudo bem. Acontece que entre o disjuntor exterior e o comutador, os fios não têm um isolamento habitual. As quinze voltas de fita isoladora colorida não inspiram muita confiança, mas as secções dos fios são as adequadas, pelo menos.

Dentro de casa, as coisas têm um aspecto mais profissional. Os condutores têm isolamento e cumprem as regras básicas de montagem. Depois deste relance é que vêm os sustos…

Em vez de se procurar equilibrar a carga nas várias fases disponíveis, o electricista optou por ligar todos os circuitos de tomadas à primeira fase, os da iluminação à segunda e as máquinas de ar condicionado à terceira.

Um pouco mais à frente temos os disjuntores de cada circuito. Como temos uma casa estupidamente grande, é mais fácil dividir as coisas em termos de alas. Há a ala ocidental, com a cozinha, sala de jantar e casa de banho e a ala oriental, com a sala de estar e os quartos. Há um circuito para as tomadas da ala oriental, outro para as da ala ocidental, um circuito separado para a iluminação de cada lado e mais um para as máquinas de ar condicionado de ambos os lados da casa.

Dito assim, nem parece mau, mas um dos disjuntores está a servir para alimentar o fogão eléctrico, o exaustor, a caldeira, a bomba, o micro-ondas, o frigorífico e a máquina de lavar. Qual sobrecarga, qual quê! A cereja no cimo do bolo é que tudo está ligado com fios de iluminação, daqueles bem finos! Agora percebo porque razão aquele circuito avariou…

Da mesma forma que os carros se vão arrastando e mantendo em andamento com reparações de desenrasque e com peças adaptadas, também as redes eléctricas se vão remendando com o que houver à mão. Se funcionar, porreiro. Quando avariar logo se repara, mas não pode demorar muito, por isso improvisa-se um remendo com o que houver à mão.

Neste momento estamos sem água quente, sem máquina de lavar roupa e sem bomba de água. O frigorífico e o micro-ondas migraram para a sala e agora passam os dias a olhar para a televisão.

Comparado com o Hotel Turismo, é um luxo, mas já começo a ter saudades de ter água nas torneiras mesmo quando falta na rede pública…

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Uma resposta a “Remendos”

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  1. Essa instalação eléctrica promete. O electricista gosta de jogar às escondidas, quis quebrar a vossa rotina pondo-vos à procura do fio de Ariana. O frigorifico e o micro-ondas devem ter gostado da mudança, não se pode trabalhar sem nenhuma distracção. Experimentem pôr uma televisão em frente das torneiras, talvez chorem com os dramas das telenovelas venezuelanas.
    Haja paciência!
    Beijos

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