Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

28  01 2011

As velhinhas eram doces e afáveis

O autocarro estava na paragem a meio do quarteirão, com o último passageiro a desviar-se da porta que se fechava. Na esquina mais atrás, uma velhota vestida de preto e passo despreocupado exclamou, sem grande convicção, «Espere um pouco, homem!»

Ouviu-a quem passava por perto, mas o barulho dos carros a passar abafou a interpelação anémica e o motorista, como é óbvio, nem a chegou a ouvir e seguiu a sua rota.

A velha respirou fundo enquanto fazia o ar mais indignado do mundo e subia a um pedestal imaginário do qual, num sentido germânico digno de general em dia de condecoração, gritou bem alto:

«ESTÚPIDO DA MERDA!»

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

6 respostas a “As velhinhas eram doces e afáveis”

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  1. Se elas até já navegam na internet…
    Pois é, são sinais destes tempos. O decoro e a reserva dão lugar ao desabafo. Quem as pode condenar?? Só estão a actualizar-se…

  2. Há algumas que já navegam na internet, mas esta era apenas mal-encarada.

  3. Não sabias que em qualquer idade “um grito de revolta” sabe sempre bem?

    Já sou velha e jamais diria isso ao condutor que com toda a certeza não ouviu, como não digo nada às bestas que conduzem nas estradas e que fazem o que fazem.

    Há tempos um parvalhão ainda mais velho do que eu insultou-me de tudo, pois não sabia que as regras das rotundas tinham mudado. Safei-me de uma batidela e peras. UM PSP viu e mandou-nos parar e o homem continuou a insultar e eu responder? Só disse duas palavras em kimbundo que ele não percebeu, mas foi a forma de me acalmar porque claro eu tinha razão e o guarda perguntou se eu queria apresentar queixa. A cara do palerma mudou de cor. Para quê? para entupir mais os tribunais com coisas cretinas? Só digo a este “Gentleman” que vá rever o código…e a coisa morreu ali.

    Bom fim de semana

  4. Tenho-me apercebido que os praguejar em quimbundo alivia mais o espírito que noutra qualquer língua. Muitos dos que viveram em Angola mantiveram esse hábito.

  5. eu nasci mesmo em Angola, Luanda embora conheça a Angola de lés a lés:) e já esqueci muito do Kimbundo ou quimbundo. Mas dizer uma asneirada no meu dialecto…ui…como sabe tão bem:)

    Acho que o efeito é mesmo em qualquer língua desde que quem nos ouve não perceba o que estamos a dizer:)

  6. A mãe de uma amiga minha costuma soltar um »Sungarié» de vez em quando…

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