A alegria do voto
Afonso Loureiro
O processo de votação nestas segundas eleições legislativas de Angola correu bem. O número de assembleias com problemas foi quase residual. Há quem não resista a comparações com países onde as eleições não são novidade e a experiência dita muitas regras. É preciso não esquecer que Angola é um país africano, sempre com a sua dose de desorganização natural. O modelo ocidental nem sempre se adequa da melhor forma. Mas tenho orgulho nestes angolanos cheios de esperança, que conseguiram fazer as coisas sem problemas de maior.
As poucas assembleias que tiveram de suspender a votação ou que encerraram mais cedo na Sexta-feira, reabriram no Sábado. De manhã havia alguma confusão, com muita gente que ainda não tinha votado a acotovelar-se na fila, mas ao final da tarde já eram mais os escrutinadores que os votantes.
Uma das muitas assembleias de voto
Estas eleições, ainda antes de terem terminado já estavam a dar frutos. Há uma alegria dentro dos angolanos que se vê nos olhos e nos sorrisos. O voto de cada um valeu mais que todas as estradas novas. Todos sentem que fizeram algo de importante pelo país!
Aproveitámos o Sábado para ir almoçar e fazer umas compras no mercado de arte.
Enquanto regateava, fui perguntando pelas eleições. O negócio ficava logo esquecido. Cada um queria partilhar, com gestos largos e sorrisos abertos, a felicidade que tinha tido ao votar. Perguntei se tinham demorado muito, se as filas eram grandes ou se tinha havido problemas. «Não, foi só cinco minutos. Rápido, rápido.»«Estava lá muita gente, mas andava depressa. Todos queriam votar.»«Problemas? Não! Ninguém quer problemas. Todo o mundo queria era votar. Os que queriam problemas ali não eram bem-vindos!» E depois, orgulhosos, erguiam o indicador pintado. Aquela era a prova de que estavam a lutar pelo futuro. Eles estavam a dar o seu contributo, não em estradas ou linhas de combóio, mas com uma cruz no boletim de voto.
Instruções simples
As respostas repetiram-se um pouco por todo o mercado, com mais ou menos emoção. Outros perguntavam se eu tinha votado. Eu tinha de mostrar dois indicadores em branco e dizer que a mim não me deixavam. Mas tê-lo-ia feito de boa vontade, nem que fosse para poder partilhar e melhor perceber esta alegria dos angolanos. Um acrescentou «Foi um bom trabalho. Não foi com tijolos, nem nada, mas foi um bom trabalho que fiz por Angola!»
A sombra da guerra que se seguiu às última legislativas está agora mais ténue, mas não desapareceu por completo. Os angolanos não esquecem os erros do passado e têm medo de os repetir. Sensatos. Quando pergunto se vai haver problemas são unânimes em dizer que não. «Quem ganhou, ganhou. Quem perdeu, perdeu. Não pode reclamar!»«Quem quiser armar confusão, que o faça lá na casa dele, que nós aqui não queremos!»
Todos têm consciência de que uma nova era começou. Apregoam que o voto é a arma do povo e que se o governo fizer mau trabalho, mudam a cruz de sítio nas próximas eleições. Mas garantem que, se o trabalho for bom, mantêm o voto!
Quanto ao Presidente da República / Presidente do MPLA, todos lhe perdoam os pecadilhos da campanha eleitoral e retiram a alcunha de corta-fitas que lhe deram há uns dias. O mais-velho da Nação tem feito um bom trabalho e continuado o ideal de Agostinho Neto. Todos gostam do Zé Dú!
Vivam os Angolanos que, muitos deles, sem saberem ler nem escrever, souberam apontar o caminho que queriam seguir.
É comovente ver essa alegria, quase ingénua, do dever cumprido. Os dados estão lançados.
Eu, continuo sempre a votar em ti.
Que bom ver um povo empenhado na paz, de facto as guerras não levam a lado nenhum e quem sofre é sempre o pobre e o mais fraco.