Guerra Civil
Afonso Loureiro
A guerra civil marcou gerações de angolanos. Antes dessa, já a guerra contra o colono tinha deixado cicatrizes profundas.
Saber que Angola esteve 41 anos em guerra não quer dizer nada. É apenas um número. 41 anos é tanto tempo que pode ser a duração de qualquer coisa, não somos capazes de abarcar tanto. Não temos noção nenhuma do que isso significa para as vidas dos angolanos.
Marcas de guerra numa sede do MPLA
Há uns tempos conheci um segurança já grisalho, sinal de muita idade. Os seus 47 anos oficiais não contemplavam os anos de guerra, que dizem contar a dobrar. Enquanto conversávamos sobre as eleições e sobre o futuro de Angola, falámos também sobre o seu passado. Houve uma frase que me ficou na memória e não me largou. Passei a ter uma noção do que os 41 anos de guerra realmente significavam.
«Nasci com a guerra, cresci com a guerra, envelheci com a guerra. Não tinha esperança que acontecesse, mas vou morrer na paz.»
Tinha nascido em 1961, julgo que na província do Zaire, com o início da guerra colonial. A mãe andou com ele às costas a fugir aos combates.
Aos 15 anos, Angola tornou-se independente e ele entrou para o exército, nas FAPLA. Lá passou 14 anos, até 1989. Combateu contra a UNITA e contra os Sul-Africanos. Foi ferido. Feriu e matou. Aprendeu que os mais impetuosos morrem nas emboscadas e armadilhas. «Os burros morrem depressa». Deixou dois filhos em Ondjiva. Nunca mais os viu. Recorda-se das bombas, dos mísseis e das chacinas. Encolhe-se quando fala dos aviões que sobrevoavam os combates. Fala do napalm nas aldeias…
Cicatrizes de guerra
Combateu ao lado dos Cubanos, que achavam estranho haver Angolanos a lutar contra Angolanos. Primos a matar irmãos e sobrinhos, mães divididas por terem filhos a lutar em campos adversários.
A filha mais nova pergunta quem são os da UNITA. Não acredita que seja contra aqueles que o pai combateu. «Aqueles não são brancos, pai!»
Está confiante no futuro de Angola. Já não volta a haver guerra entre os Angolanos. A coisa melhor que fizeram foi juntar as tropas todas num só exército, as FAA. Agora há soldados da UNITA com soldados do MPLA e da FNLA e são todos irmãos. Não vão lutar uns contra os outros.
A Revolução custou demais
Com 47 anos, viveu mais que muitos angolanos. Mas teve a vida sacrificada em prol de uma guerra que ninguém queria. Conheceu a paz no final da vida e está grato. Tem a certeza de que vai durar!
Agora que a paz chegou, custe o que custar, a vida dos angolanos só poderá melhorar.