Minas anti-pessoal
Afonso Loureiro
Em Luanda não se vêem muitos estropiados pelas minas. É mais vulgar ver vítimas do pólio do que pernas amputadas. Quem só conhecer Luanda julgará que a ameaça das minas não é assim tão grande.
No entanto, a guerra acabou há já seis anos e as operações de desminagem têm limpo, palmo a palmo, lavras e estradas. Só nas províncias do Leste é que a terra continua verdadeiramente perigosa e acessível apenas aos que arriscam a vida a cada passo. Diz-se por aí que ainda há minas que chegam para todas as pernas dos angolanos. Com a típica desorganização das guerrilhas, ninguém sabe nem onde estão, nem quantas há realmente.
As minas anti-pessoal foram concebidas para mutilar e não matar. Os adultos podem não morrer, mas as crianças não têm a mesma sorte. O mesmo se passa com as minas anti-carro, que foram concebidas para mutilar blindados e acabam por destruir viaturas ligeiras em tempo de paz.
Nos arredores de Luanda
No campo, os mutilados não são postos de parte. Têm filhos, trabalham e sobrevivem dentro da normalidade possível.
Em Luanda vivem de esmolas mendigadas nos cruzamentos…
Se em Luanda todos tentam viver da esmola, da gasosa, da boa vontade de algum branco… é natural que os mutilados não sejam excepção.
É muito triste ver imagens de mutilados, sobretudo aqueles a quem, para além do corpo, também mutilaram a alma, roubando-lhes o direito à dignidade.
Também aí, os meios urbanos são cada vez menos humanos.
Assim vai o mundo, e cada vez tem menos ângulos bonitos para fotografar.