A pergunta mais difícil de todas
Afonso Loureiro
Num destes dias, quando conversava com um dos nossos técnicos acerca de Angola e do seu futuro, lembrei-me de lhe fazer uma pergunta incomum: “O que há de bom em Luanda?”
Habitualmente, as conversas acerca de Luanda centram-se nas coisas más, no que não funciona, no que está estragado, no lixo, na corrupção, nos preços altos, na pobreza… Raramente se fala no que é bom. E quando se fala, às vezes diz-se que no tempo do colono, sim, havia coisas a funcionar. Os angolanos são os maiores críticos de si mesmos.
Ora acontece que a conversa, até então animada, morreu de repente. A pergunta trouxe um silêncio pesado, um cacimbo que prendeu a língua ao X.. A pergunta era demasiado dificil, mas vinha disfarçada de coisa simples, com palavras inofensivas. Sei que a pergunta é terrível, já muitas vezes lhe tentei encontrar resposta. Por vezes consigo. Noutras ocasiões também fico sem palavras.
“O que há de bom?” repetia ele.
“Sim, tem de haver alguma coisa boa. Não pode ser tudo mau!”
Depois de mais uns momentos de silêncio, desistiu. “Não há nada bom em Luanda. Só se se for rico.”
Insisti. Tem de haver coisas boas em Luanda. Acabou por dizer que talvez só a liberdade que se tem para ouvir música em qualquer lado ou o facto de não se cobrarem impostos é que poderiam ser coisas boas. Sabe que as coisas vão melhorar e que a guerra atrasou muito o desenvolvimento do país. Faz parte da geração que tem perspectivas para Angola mas sabe que não as gozará. Serão os seus filhos a herdar o país reconstruído.
Tive de discordar dele. Há coisas boas em Luanda, concerteza. Os angolanos é que andam um pouco atordoados com as dificuldades da vida para se aperceberem delas. Eu bem vejo os sorrisos em cada esquina e as crianças a rir enquanto correm atrás de uma bola. Isso são coisas boas, não são?
Entretanto fiz a mesma pergunta ao C. e ao J., outros dois técnicos. Falaram-me da diversão nocturna, das festas e do bom ambiente que se vive em Luanda. O X. confirmou, mas percebeu que não era bem isso que eu procurava saber.
A L., que também lá trabalha, disse-me que havia muitas coisas más, que a Luanda de hoje melhora nuns aspectos mas piora noutros e explicou-me porque razão as pessoas só falam no que não está bem, mas depois concluíu com a resposta mais bonita. “Hoje, o que há de melhor em Angola, é a quantidade de técnicos médios que já se formou!”
E agora, para quem lê, o que há de bom por aí?
Poder sair à rua a pé com o telemóvel na mão e o relógio no pulso, por exemplo.
É sem dúvida a pergunta mais difícil de todas, principalmente com a crise que atravessamos e as dificuldades do dia a dia… é sempre mais fácil apontar as coisas más que as coisas boas. Até os jornais e a impressa vivem das “más” noticias, os assaltos, os homicidios, a crise… isso é que vende.
Perante esta questão bastante difícil, a primeira coisa que me lembrei de bom foi do meu sobrinho Tomás, de como uma coisa tão pequenita me traz tanta felicidade, lembrei-me de outras também, da minha família, dos amigos, do mais-que-tudo e as suas surpresas, enfim pequenas coisas mas que dão outro colorido à vida. Talvez seja mesmo esse o segredo, as coisas boas desta vida estão em coisas bem pequeninas, por vezes com pouco significado mas que para nós são muito importantes…
Gosto muito de ti minha coisa boa.
“O que há de bom em Angola?” ou o que há de melhor Angola? Resposta muito fácil!
Um mano nascido no século passado e com alma engenheiro, de valor em muito superior e incomparável ao dos diamantes e ouro negro de Angola.
Sim Raquel, sem dúvida que essa é a coisa melhor que há em Angola neste momento.
O que há de bom em Angola, como diz a Raquel, tem uma resposta óbvia e nada tendenciosa, TU.
Por aqui achamos que nada é suficientemente bom, que nos falta quase tudo, mas quando nos afastamos do pequeno rectãngulo, onde ganhamos raízes e ancoramos as memórias, percebemos que não nos faltava quase nada, e não sabiamos.
O que há de pior por aqui?
Os politicos, em especial a ministra da educação, e as politiquices.