Os seus documentos e os da viatura, por favor!
Afonso Loureiro
Tinha tudo planeado para ir fazer uma visita ao Santuário de Nossa Senhora da Muxima, a cerca de 200 quilómetros de Luanda. O farnel estava arrumado, as rotas traçadas e carregadas no GPS. Faltava atestar o carro e partir bem cedo.
As coisas começaram logo a correr mal quando, depois de uma semana a aturar obras debaixo da janela até às duas da manhã, dormi onze horas de seguida. Levantei-me repousado, pelo fresquinho da manhã, julgava. Afinal já era o morno da tarde e o meio-dia tinha partido há um bocado.
Se encurtasse a volta até às margens do Cuanza, até um sítio com o poético nome de Baixa da perna do jacaré, o dia ainda se aproveitava. Pelo menos podia fazer fotografias bonitas. Só faltava mesmo atestar.
As bombas perto de casa, habitualmente pouco concorridas, pareciam estar a vender combustível com desconto, tanta era a gente. Mais à frente percebi porquê. As mais concorridas estavam a ser reabastecidas. Haveria mais oportunidades pelo caminho.
Havia muitos militares na rua, mesmo nas avenidas onde não costumam aparecer. Será que o Zé Dú vai zungar?
Os engarrafamentos que me tinham feito desistir do passeio na semana não me apoquentaram desta vez. Havia zonas em que se andava mais devagar, mas nada de especial para Luanda.
Carros da polícia por todo o lado. Muitos a rebocar as esquadras móveis, uns atrelados que transportam tudo o que é necessário para uma operação STOP.
Em frente ao edifício do Controlo da Polícia, onde vai começar a nova estrada circular para Viana, cones laranja, coletes amarelos e luzes azuis a piscar. Habitualmente a polícia de trânsito usa coletes laranja. Estes eram amarelos porque pertenciam à polícia de prevenção rodoviária!
Como não podia deixar de ser, fui carimbado! Mas hoje foi de borla.
O “carimbo”
Toda a gente era interpelada. Ao contrário do habitual, não pediam documentos ou contribuições para o bem-estar dos agentes. Estavam a entregar panfletos de sensibilização e a desejar uma condução cuidada aos motoristas. Depois colavam um autocolante no vidro, que nos relembra a lição.
Fiquei muito bem impressionado com a campanha. Em vez de se fazer como nas terras lusas, onde se gasta dinheiro para decidir onde se vai espetar um cartaz a repetir os chavões gastos. Um a um, os motoristas prestam alguns segundos de atenção ao polícia e recebem quatro panfletos bem interessantes.
Atrás do cartaz, uma ribanceira cheia de destroços
Continuei para sul. A estrada foi asfaltada de novo nos quilómetros que se seguem ao Morro dos Veados. Tem marcações, sinais e asfalto em condições. Nem parece que estamos em Luanda.
O primeiro, para criar ambiente
Na curva a seguir ao Museu da Escravatura, está um camião a voltar à estrada depois de uma operação STOP. Olhei pelo espelho, não vinha ninguém atrás. Bonito, já me saiu a sorte grande.
Certo e sabido, a raquete do polícia de colete laranja começou a indicar-me um local para encostar.
A tabela
«Boa tarde. Os seus documentos e os da viatura, por favor!»
Como sempre, as várias dobras e páginas em línguas estranhas da carta de condução internacional, deixam os polícias sem saber muito bem o que fazer com o documento. Abre daqui, folheia dali, desdobra acolá, volta a dobrar, dar a volta, ver a capa, abrir outra vez.
«Sabe onde foi assinada a Conferência Internacional de 1949?» perguntou o polícia, apontando para a capa da licença de condução.
«Não faço ideia.» respondi, rindo-me para dentro. Enquanto o ar demasiado oficial do documento causar estas reacções, estou safo. O passaporte e respectivo visto acabou por esclarecer o resto das dúvidas.
Mandou-me seguir viagem. Continuei para sul. Agora só paro no Cuanza, pensei.
O acondicionamento da carga nem sempre é o ideal
Nem cheguei a engrenar a quarta. Na curva seguinte, outra operação STOP! O que se passa hoje? Estavam sem nada que fazer e vieram dar uso às esquadras móveis? Desta feita eram coletes amarelos outra vez. A raquete a agitar-se não deixou margem para dúvidas. Parei de novo.
«Boa tarde. Os seus documentos e os da viatura, por favor!»
«Nos últimos dez minutos já fui parado três vezes, tenho direito a prémio?»
Desta vez apanhei um misto da primeira e da segunda operações. Era acção de sensibilização, mas também queria ver os documentos. E o macaco. E a chave de rodas. E o triângulo.
Como não havia nada a apontar, mandou-me seguir viagem, mas não sem antes verificar se tinha o “carimbo”. Mostrei-lhe onde mo tinham colado e arranquei.
Se fosse só por causa do telefone que não se pára nas passadeiras…
Fiquei sem ânimo de seguir viagem. Ainda para mais, na última bomba de combustível até ao Cuanza já não havia gasolina. Fiz meia-volta e só parei para uma visita rápida ao mercado de arte. Amanhã é outro dia!
A polícia também não gosta das coisas de pré-sinalização
Então mas afinal onde é que é a festa???!!!
…depois de tanta publicidade 🙂
Abraço.
É caso para dizer “Ó Sr. Polícia pela sua riquinha saúde”.
No entanto, acho que esta medida de sensibilização e informação é bastante positiva e o “carimbo” é uma boa medida de responsabilizar o condutor a assumir uma condução cuidada.
O primeiro panfleto é um rir, com tantos erros…
Acho que sei quem é o anónimo… 😛
Com erros ou sem eles, passa a mensagem.
No meio dessa intensa campanha de informação do que se deve e não deve fazer depois da festa, seja ela qual for, sobretudo se tiver curvas, sejam quais forem, não consegui perceber por que era tão importante saber o local da dita conferência internacional.
Seria lá a festa e andavam todos perdidos?