Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

13  11 2008

Energia

Angola importa tudo o que consome, com a honrosa excepção da energia eléctrica. O país é auto-suficiente em termos de produção, com uma capacidade instalada superior ao consumo registado.

Não é por isso que deixa de haver interrupções no fornecimento. Os maiores problemas não se centram no sector da produção, fácil de reparar e instalar. A crise vive-se na distribuição, com redes sub-dimensionadas, remendadas e emendadas para lá de todos os limites imagináveis. Os postos de transformação absorvem cargas mal geridas até ao dia em que avariam. Até as instalações eléctricas de cada casa, propensas a curto-circuitos e consumos excessivos, contribuem para a instabilidade no fornecimento.

O que é de admirar é que, tal como acontece na rede de águas, as coisas ainda vão funcionando. Com remendos consecutivos se vai mantendo a electricidade a fluir.

A maneira como os angolanos usam a electricidade também não contribui para a saúde da rede. Por estas bandas nunca se ouviu a palavra poupar. Há que aproveitar as vezes em que a electricidade vem e ligar tudo. Como também não há muitos contadores instalados, o incentivo à poupança é diminuto. Dou um exemplo: no prédio em frente está acesa uma lâmpada fluorescente dia e noite desde que cá cheguei – e já lá vão uns meses! É por estas e por outras que há a necessidade de centrais eléctricas largamente sobre-dimensionadas. Todos gastam quanto podem. E só não gastam mais porque as tomadas estão todas ocupadas. Mas mesmo com a electricidade barata, há quem prefira fazer puxadas ilegais a pagar a conta. Ou até mesmo não pagar a dita. O nosso vizinho de cima escolheu a segunda via. Curiosamente, o aviso do corte foi entregue na nossa casa… que estranho.

Os angolanos não desperdiçam apenas electricidade. Nas filas intermináveis que assolam Luanda, duvido que haja alguém que se lembre de desligar o motor do carro. E ainda estou para ver quem esteja à espera de um passageiro com o motor parado – mesmo que a espera se anteveja longa. Um país exportador de petróleo tem destas coisas.

Os carros de eleição são os de vários litros de cilindrada que gastam tanto num trajecto urbano como um carro pequeno numa viagem grande. Os nossos operadores são da opinião que se devia aumentar o preço dos combustíveis, para ver se as pessoas começavam a pensar em poupar. Sinto que são uma minoria, tal como nós, que vamos fazendo os possíveis por desligar o motor nos engarrafamentos complicados ou não acender muitas luzes em casa.

Nem tudo é mau. Há já alguns projectos de aproveitamentos hidroeléctricos em curso, procurando assegurar um fornecimento mais limpo e constante que o actual, que depende quase exclusivamente de geradores a gasóleo. Potencial é o que não falta em Angola. Não será de um dia para o outro, mas isto vai lá!

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Uma resposta a “Energia”

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  1. Ainda não existe a percepção que o desperdicio que é feito, um dia mais parte pode fazer falta… tudo tem um fim os recursos não são ilimitados.

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