Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

21  11 2008

O drama, a tragédia, o horror!

Quando não se sabe muito bem o que fazer para o jantar é preciso recorrer à imaginação e inventar qualquer coisa com o que se encontra nos armários e no frigorífico.

Como já tinha descongelado um peito de frango brasileiro (halal, por sinal), pensei que um arroz de carne não fosse má ideia. No entanto, só no final é que teria a certeza do que resultaria.

Ainda antes de saber o que vai sair, começamos por pôr um pouco de azeite num tacho para fazer um refogado, a base da culinária portuguesa!

A seguir pica-se uma cebola. Se a encontrarmos… O drama! A tragédia! O horror! Não há cebolas! E agora? Como se faz um refogado sem cebola?

Quando fomos ao Jumbo não trouxemos cebolas. As que lá tinham estavam tão podres que até cheiravam mal. Fui à mercearia da esquina. À noite, todos olhavam para mim e pensavam no mesmo que eu: «Haverá alguma coisa mais deprimente que um branco de calções?»

Tinham sete batatas, um abacaxi, alguns pêssegos com bolor e bananas com aspecto de terem sido atropeladas por um candongueiro. Nada de cebolas.

Estava-me a parecer que um refogado decente se mostrava cada vez mais difícil.

Quem não tem cão, caça com gato. E quem não tem cebola, refoga com… alho? E porque não? Logo se verá como sai.

Alho picado para o azeite. Deixa-se ganhar cor. Junta-se o tomate. Foge-se do PSHHH e dos salpicos. Junta-se o sumo do tomate. Juntam-se alguns condimentos.

O frango brasileiro vai para o tacho cortado aos cubos. Junta-se pouco de água quente e deixa-se apurar. Uma chávena de arroz basmati acaba lá dentro. Juntam-se vinte minutos de lume brando.

Ponho-me a pensar no frango halal. É morto à mão por causa do preceito Islâmico ou porque as máquinas são caras? Lembro-me da comunidade judaica em Lisboa que, à falta de talho kosher, se abastece no talho halal. O talhante muçulmano agradece a freguesia. Se em Lisboa são bons vizinhos, porque não o conseguem ser lá na ponta do Mediterrâneo?

O cronómetro começa aos saltos no armário e desperta-me dos pensamentos de judeus, muçulmanos, brasileiros e frangos. Está pronto. Tudo para a mesa!

Até nem correu mal. Deixa cá provar. Bolas, esqueci-me do sal!

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

5 respostas a “O drama, a tragédia, o horror!”

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  1. Excelente substituição de jogadores não há cebola joga-se o alho para o refogado. Estás cada vez melhor na cozinha.

  2. e eu com tantas cebolas aqui.
    sempre divertido, e eu cada vez mais proximo de africa.
    saudações

    http:\\coresemtonsdecinza.blogspot.com

  3. Existem outras tragédias, como você estar cozinhando e acabar a água! Ou o azeite que parece gasóleo explodir dentro da panela!
    Abraço,
    João Paulo.

    http:\\angolajpt.blogspot.com

  4. Também já fiz ums substituições do género. Umas funcionaram mas outras é melhor nem recordar. Abraço.

  5. Pelos vistos estás muito criativo na cozinha, os teus pratos são sempre uma surpresa. A sopa da pedra começou apenas com uma pedra e ficou famosa….

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