Alembamentos, adenda
Afonso Loureiro
Numa terra onde o calor aperta e a roupa é pouca, é de esperar que as sociedades não sejam tão rígidas nem sigam a moral vitoriana. No entanto, em Angola não se vive num forró-bódó. Há gente respeitadora dos bons costumes ditados pela convivência em meios pequenos. É certo que a cidade grande esbate esses hábitos, mas não é de repente que acontece.
Ninguém vê com maus olhos que as pessoas namorem. É aceite e compreendido por todos. Aliás, é quase instituído que os homens tenham muitas namoradas. Mesmo que sejam casados. Pular a cerca é tolerado, mas bater na esposa é algo de muito baixo.
Caso se pretenda algo mais sério, é de bom tom que o namorado seja formalmente apresentado à família da noiva quanto antes. O célebre alembamento. Numa primeira fase, juntam-se os pais de ambos e alguns tios dos dois lados para se acertar os pormenores do alembamento. O que o rapaz tem de entregar varia muito em função das suas posses e da exigência da família da noiva.
Os valores padrão são as várias grades de cervejas e gasosas, os vinhos, os licores e os destilados, as quatro mudas de panos holandeses, os lenços e as roupas para os pais da noiva. Os volumes de tabaco e os fósforos, pormenor fundamental, são todos acertados nesta reunião.
Um outro factor que pesa bastante no orçamento do noivo, é o estado da noiva. Se a noiva estiver concebida no momento em que se faz a apresentação, é sinal que o noivo cometeu (o pecado) se a devida autorização dos pais da noiva e por isso terá de ser penalizado. Os valores a entregar no pedido de alembamento serão muito maiores porque ele não se portou bem. E a data do casamento é determinada com muito menos flexibilidade. O neto terá de nascer já na casa do casal!
No dia da cerimónia, o tio mais velho do noivo lê o pedido do rapaz, cheio de floreados típicos destas coisas, mas bastante objectivo. Afinal de contas, quer pedir a mão da rapariga (e julgo que o resto também).
Nas famílias mais tradicionais, a cerimónia termina com uma refeição que dura a tarde inteira. Ao pôr-do-Sol regressam a casa, deixando algum dinheiro debaixo da toalha. Afinal de contas, quem vai lavar a loiça também tem de comprar o sabão, dizem-me.
Nos alembamentos modernos, a festa dura pela noite dentro, acabando quando se esgotar a bebida…
Como aqui são os homens que têm de sustentar a mulher, a tolerância que lhes é dada para andar com outras, para elas é quase inexistente. Criticam-se as raparigas namoradeiras, que vivem sem pensar no dia seguinte. Dizem que se vendem por pouco, dependendo dos vários namorados que arranjam. Afinal de contas, se engravidarem passa a ser problema apenas delas, porque eles saltam para outra. Ficam com o filho e sem o rendimento, voltando, às vezes, para casa dos pais.
Estranha forma de vida.
Talvez as mentalidades acompanhem, mesmo que muito atrás, a evolução dos dinheiros que por Angola circulam.
Continue a contar daí.
saudações
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Um bocadinho mais a sul de onde estás os alembramentos chamam-se “LOBOLA” e são exactamente aquilo que descreves: Uma compra em mercado aberto.