Verdinegro
Afonso Loureiro
Ainda no tempo do cacimbo, no pino do Inverno tropical, fomos à praia. Os angolanos a quem confessámos o pecado tiveram a confirmação das suas suspeitas: somos mesmo estranhos.
Como se pode ir à praia no Inverno? A água está fria, não se vê o Sol. Deixaram o juízo lá no outro hemisfério, só pode.
Outro doido
É certo que a água, pelos padrões angolanos, está fria ao ponto de causar cãimbras quando pensamos nela. Os seus míseros 22º mantém afastados os locais. Eles, provavelmente por recearem os efeitos da água gelada em contacto com a sua masculinidade…
Certo, certo, é que água assim, rivaliza com muita praia algarvia no Verão Setentrional. Só mesmo as ondas grandes, que se enrolam numa praia íngreme, é que nos impedem a afoiteza de entrar até ao pescoço.
Mesmo assim, molhar os pés e sentir a água a contornar-nos o corpo no seu vai-e-vem incansável é um dos pequenos prazeres da vida.
Enquanto nos deixávamos embalar pelas ondas da praia do km 55, seguindo o percurso do Sol em direcção ao horizonte, reparámos que não estávamos sozinhos na praia. Lá longe, quase no horizonte, um grupo em que se jogava à bola ou se fugia das ondas maiores enquanto tentava não molhar mais que a barriga.
Praia no cacimbo
Um deles separou-se do grupo e caminhou pela areia na minha direcção. Parou para meter conversa. Era Mauritano e chamava-se Abu. Pensou que fosse seu compatriota. Trocámos conversa em Português e Francês. Ainda tentou Árabe, mas fiquei-me pelo Salam aleikum e Shokran. Há cinco anos deixou a Mauritânia, com um curso de economia e abriu uma loja de móveis no mercado de São Paulo, em Luanda.
Isto de ser verdinegro tem destas coisas. Já na Tunísia me confundiram várias vezes. Especialmente nos dias em que usei turbante nos mercados.
Continuaram o seu jogo de futebol e voltei a contemplar o mar.
Adoro o campo e posso passar anos sem ir à praia, mas adoro o mar. O perpétuo ritmo das ondas que lavam a terra recorda-me a nossa insignificância perante o mundo. Lembram-me que sou o culminar de todas as vidas dos meus antepassados que, tal como as ondas, foram mudando lentamente a terra. Eu serei mais uma onda. Farei a minha parte e darei o lugar a outra.
O Sol descia cada vez mais depressa e a praia sossegada começou a ser percorrida por dezenas de pequenos caranguejos. Saiam dos seus buracos e procuravam passar despercebidos. Corriam de um lado para o outro até entrarem noutro buraco.
Fugiam de nós e das ondas, mas não resistiam ao pôr-do-Sol. Mesmo em tempo de cacimbo, era um espectáculo de pasmar.
Hora de partir.
na minha Luanda do antigamente..a outra q poucos estrangeiros conhecem, a Luanda do PT(partido do Trabalho:)
a Luanda dos duros e ao mesmo tempo bons anos 80′ e 90′, qdo eu vivia nessa Luanda, o programa dos domingos caluanda, era praia…cacimbo ou verão,sempre praia..
naquela Luanda as praias da Ilha eram ainda quase interditas a banhos, entao a familia fazia praia ali na Chicala…areia limpa,poucas pessoas, só mesmo os locais, ondas calmas e de espuma branquinha, e de ‘esquebra’ ao fim da tarde, um por do sol único..uma das melhores praias de Luanda!
Mas isso era na outra Luanda, hoje quase nao se consegue entrar na Chicala: dizem q o mar da kianda ficou com raiva..
sortudos…
confesso que nutri sentimentos de alguma pena desses 22º da água do mar. muito melhor por estes lados onde, a esta hora (9h da manhã) temperaturas sem um ífen antes são miragem.
saudações
http:\\coresemtonsdecinza.blogspot.com
Eu gosto muito do campo, da serra (deve ser da costela serrana), mas tenho pela praia e pelo mar um certo fascínio que não sei explicar.
Lembro-me das vezes que fui à praia este ano, em que ficava a olhar o infinito (onde o mar e o céu se tocam) e pensar de quem tinha do outro lado…
Bons mergulhos meu verdinegro.
olá Afonso,
gostaria de entrar em contacto consigo.
arcoires@gmail.com
abraços