Como fazer a diferença
Cristina Ribeiro
Cada vez mais se vê gente a pedir nas ruas, no metro, no comboio, uns porque não podem trabalhar, outros porque não têm vontade. Por uma razão ou por outra, há cada vez mais gente a pedir, a crise assim o impõe.
Regra geral não dou dinheiro porque existem tantas histórias de gente que pede na rua para sustentar os vícios ou outros que têm grandes casas e vivem uma vida de luxo. Uma coisa é pagar uma refeição quente, outra é dar dinheiro que nunca saberemos qual será a sua finalidade.
Ontem fui abordada por um sujeito que andava a pedir na Gare do Oriente, a sua abordagem foi tão original e sincera que eu abri a carteira e dei-lhe a moeda maior que tinha.
O sujeito começou de forma educada a dizer que vivia ali na rua que é seropositivo e que preferia pedir do que andar a roubar porque assim era mais bonito e pedia uma ajuda para comer alguma coisa. Eu achei que dada a sinceridade e a coragem que era merecido. O senhor agradeceu e partiu.
Hoje penso que o risco do dinheiro ter sido usado para outra coisa que não uma refeição quente é grande, mas quero acreditar que não.
Não há dúvida que a maneira como abordamos os assuntos faz toda a diferença.
Sabes amiga(permita-me a ousadia) Cristina, tenho exactamente a mesma filosofia que a sua. Aliás, em vários pontos do Mundo tive a experiência na primeira pessoa do que é ofertar alimentos que bem ou mal, custando menos ou mais, deixamos de comer, para irem no segundo imediato parar ao contentor mais próximo – eu assisiti a isto, comigo.
Ainda assim partilho da ideia de que, se nos fará bem à consciência, que assim seja.
A meu ver, sem opin~iões, antes partilha de actos, fez o que eu fariz.
cumprimentos
http://coresemtonsdecinza.blogspot.com
Faz-me lembrar a história do ceguinho que tocava acordeão nos corredores da estação do Metro do Saldanha.
Todos os dias passava por ele, mas nunca tive a decência, ou coragem, ou bondade???… de lhe oferecer alguma coisa. Ainda bem, um dia cheguei às Moreiras Grandes, ali para os lados de Torres Novas/Ourém, para passar mais um fim-de-semana na casa de família, quando não foi o meu espanto que o ceguinho estava ali, na casa ao lado, sem o acordeão… e a ver!
É por essas e por outras que já tenho pago um pão-com-chouriço aqui, um galão acolá… é preferível 🙂
Ora aí está um tema bem a propósito de Luanda, os pedintes.
Aqui, divido as pessoas que se fazem aos trocos em dois grupos:
os seguranças dos prédios, que ao menos fizeram o esforço de procurar um emprego, têm turnos de 24 horas (quando não juntam dois turnos) e vivem com 150 dólares por mês;
os rapazes de 15-20-25 anos, que não trabalham por opção ou por desculpas tão fracas como a falta de BI.
Escusado será dizer que, aos primeiros, não hesito em retribuir a ajuda no estacionamento do carro. Os da empresa têm herdado parte da marmita que a empresa de catering nos serve. À rapaziada calona, com boa idade para trabalhar, dava-lhes uma picareta e punha-os a contribuir para o bem do país.
Quanto ao sujeito que te pediu dinheiro, surgem-me algumas questões:
1 – Quando ele argumenta que prefere pedir a roubar, é suposto aplaudirmos «Eh pá, sim senhor, é uma atitude louvável»?
2 – Será realmente seropositivo? Quem nos garante que não é simplesmente um gajo para quem é muito mais cómodo fazer o papel de coitadinho do que bulir, como o “ceguinho” relatado pelo Vitor Sérgio? É que, perdoem-me a frieza, mas não estou a ver em que é que ser seropositivo é impedimento para ter um emprego…
Beijos
Sabes Ricardo, eu também pensei que bonito era em vez de andar a pedir arranjar um trabalho.
Também concordo que ser-se seropositivo não é impedimento de se ter um emprego, no entanto, sei também que vivemos numa sociedade cheia de preconceitos e que isso sim é que cria barreiras.
Quero acreditar que o dinheiro que dei serviu para a finalidade para que foi pedido, mas sei que a probabilidade de ter acontecido o contrário é grande…
Nos semáforos a seguir ao Hotel Mundial juntam-se sempre meia-dúzia de amputados, paralisados, coitados ou simplesmente chibados.
De vez em quando dou qualquer coisa a um. Geralmente são muito correctos e até conversam um pouco, mas são incapazes de disfarçar o sorriso quando vêem um branco no carro.
Para os que têm os membros todos em ordem de marcha, apenas pergunto pelo trabalho. O silêncio explica tudo e ficam de mãos a abanar.