Barra do Dande
Afonso Loureiro
Depois de alguns passeios para o sul de Luanda, achámos que seria bom variar e ir conhecer outros sítios de que ouvíamos falar. As descrições da Barra do Dande pareciam promissoras.
Mas, tal como para a Muxima, só à terceira tentativa conseguimos lá chegar. Começo a notar um certo padrão. Chegar a algum lado parece ser um reflexo de tudo o resto. É difícil vencer a burocracia reinante. É complicado fazer qualquer coisa porque os obstáculos vencidos voltam a surgir um pouco mais à frente. Porque haveria de ser diferente nas estradas?
A primeira tentativa foi gorada no momento em que decidimos tomar a bifurcação da direita em vez da da esquerda… No meio de um trânsito caótico e apenas uma vaga ideia do caminho, demos por nós no meio de zonas com ar tenebroso e cheios de vontade de as deixar para trás. A segunda tentativa terminou de forma semelhante, numa rua sem nome que não levava a lugar nenhum.
À terceira, depois de um planeamento mais aturado, as coisas correram melhor. Cheguei à praia de São Tiago, já a caminho da foz do rio Dande.
Acidentes aparatosos
As estradas recuperadas há pouco tempo fazem-nos esquecer que a cidade, que ficou para trás, tem muitas avenidas ainda por asfaltar. Os condutores são iguais, furiosamente agressivos, acelerando a fundo ou travando bruscamente entre cada buzinadela.
A nossa companhia
A terra vermelha e a vegetação seca faziam o contraste ideal com o céu de postal ilustrado. Nas curvas da estrada, os embondeiros faziam-se notar. Para estes lados são menos numerosos. A paisagem é um pouco mais árida.
Gozando o dia
Chegados ao controlo policial do cruzamento para a Barra do Dande, viramos à esquerda e o asfalto desaparece. Regressa após cinco quilómetros de estradões provisórios, com muitos buracos e lombas. Vinte minutos depois, ao fundo de uma curva larga, surge uma povoação, a Barra do Dande. Atrás dela, uma larga baía de águas verdes, com palmeiras e areia clara.
Um dos bares da praia
Ao contrário do que acontece nas outras praias que temos visitado, esta está limpa. O pequeno restaurante que gere o espaço recolhe o lixo e assegura-se de que as coisas estão arranjadas. Há ainda umas tendas e bungalows que podem ser alugados.
Os preços são altos, mas não tanto como seria de prever. Talvez ao nível dos preços praticados nos aeroportos.
Ao final do dia
O regresso à capital foi demorado. As filas cada vez mais compactas mostram que Luanda se aproxima. Os candongueiros tentavam ganhar lugares correndo em contra-mão ou pelas bermas. Furavam lá à frente, com mãos de fora das janelas e toques de embraiagem que faziam as iáces avançar aos sacões. Alguns condutores de corollas imitavam-nos, buzinando e fazendo sinais de luzes. Com a ânsia de chegarem mais depressa, acabam por se atrapalhar uns aos outros e chegam todos mais tarde…
A fúria vespertina
maravilha. Como é bonita a descrição! Muito bonita a viagem, o caminho. Lindo visitar Angola, e que melhor forma que aqui?
saudações
http://coresemtonsdecinza.blogspot.com
Como habitualmente, as bonitas fotografias e as magníficas descrições tornam os seus posts verdadeiros guias turísticos!
Maria
Interessante seu post. Parece um diário de bordo de um Caco Barcelos (repórter de viagens etc).
Parabéns, muito legal!
Grande coincidência! Eu também fui à barra do Dande no domingo, estive no mesmo bar. Será que cliquei você?
Abraços
Saudades da terra vermelha e dos embondeiros! Companheiros de muitas viagens! 😀
Claro que o melhor caldo de peixe é aí, Barra do Dande e o que pr’á frente…, sempre a subir…
Vivi aqui há 60 anos, tinha então oito meses de idade, antes de partir para a Vista Alegre, já mais velhinha, meu pai trabalhava na fazenda do Ricardo e Fonseca… meu Deus, como gostaria e precisatria de voltar!
Sou angolana, nascida em Luanda e criada no Uíge,na antiga cidade de Carmona. Em 2010, estive em Angola, no Uíge, em Luanda, claro, indo visitar a Barra do Dande, local onde os meus avós paternos, criaram 7 ou 8 filhos. Gostei! Comi lagostas (minis)grelhadas, cacussos grelhados, feijão de óleo de palma, mandioca e batata doce assadas. Deliciei-me! Que pena ser tão caro e haver tantas crianças a pedir esmolas. Ajudei com o que podia. Quem me dera poder voltar, mas com condições para poder ajudar aquelas crianças e jovens.