Hummer de carne e osso
Afonso Loureiro
Os padrões de beleza têm vindo a mudar em Angola. O mundo ocidental e a televisão têm obrigado a redefinir a mulher angolana desejável. A mulher da tradicição, com ancas grandes e muitas pregas roliças, foi substituída pela mulher magra e curvilínea. Angola tem mulheres para ambos os gostos. E há muitas mulheres bonitas, qualquer que seja o padrão de beleza que se siga.
Mesmo assim, apesar de agora se apreciar as mulheres magras, as de formas mais generosas não deixaram de ser cobiçadas. Aliás, como a barriga grande ainda é sinal de riqueza, uma mulher grande e redonda, alta e com ancas largas indica um bom partido (ou muita despesa, dizem).
Rainha Ginga, símbolo da mulher angolana
Percebi melhor como tudo isto funcionava no dia em que dei boleia aos nossos quatro técnicos e eles estavam a comentar o tamanho de uma mulher que passava.
J.: «Onde é que ela tem o número?»
X.: «O número!? Qual número?»
J.: «O da morada. Parece uma casa!»
X.: «Querias era uma mulher como ela…»
C.: «A minha é assim!»
X.: «Brinca, brinca…»
E nisto, a L., que tinha estado só a rir desarma todos com uma pérola:
«Alguma vez conseguias conduzir um Hummer daqueles com esse teu motorzinho tão pequeno? Só pode ser brincadeira!»
Quando o status que dá ter uma mulher grande é comparado ao que trazem os objectos de ostentação de riqueza actuais, daqueles com cromados e jantes especiais, percebemos logo onde querem chegar.
“A minha é maior que a tua!”
“Mas a minha tem jantes de liga leve!”