Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

11  12 2008

Final approach to Lima Uniform

De regresso do sul, fomos informados que o aeroporto internacional de Luanda estava encerrado. Motivos presidenciais, acrescentou o controlador.


Farrapos de algodão

Pedimos uma previsão.

No meio do ruído mal filtrado do rádio ouvimos apenas «de momento…»

Pela teoria das meias palavras angolanas ficámos logo a saber que «de momento, não havia». A cimeira de chefes de Estado africanos que se realizou em Luanda obrigou ao encerramento do 4 de Fevereiro por tempo indeterminado.


Final do dia

À medida que nos aproximávamos de Luanda, o tráfego radiofónico aumentava. Pilotos pediam previsões para a reabertura das pistas, comunicavam alterações de rota e anunciavam novas estimas. A pouco e pouco, os aviões presidenciais foram descolando, enquanto submetiam planos de voo mais ou menos complexos. Com muitas repetições e rectificações pelo meio.

A lista de espera para aterrar aumentava, bem como as trocas de informações com a torre de controlo. Alguns sotaques eram familiares. Americanos anasalados e rr arrastados da francofonia davam cor ao inglês aeronáutico, cheio de LIMAS, KILOS e TANGOS.

Enquanto aguardávamos que o último chefe de Estado descolasse, fomos traçando ovais sobre Cacuaco. Durante quase uma hora vimos Luanda em carrossel, identificando ruas e avenidas entre uma teia de ruelas tortuosas.

LU_004
Carrossel de Luanda

O porto cheio de navios à espera de vez para descarregar, todos a indicar de onde vinha a corrente, parece o início de uma regata.

De vez em quando conseguimos espreitar a praia de São Tiago, com os seus navios mortos. Não podemos deixar de olhar para estes e desejar-lhes boa sorte e melhor destino.


Abastecendo Angola

São dezenas de navios de todos os tamanhos e feitios, carregados com tudo o que se consiga imaginar. Numa terra que importa quase tudo o que consome, não é de admirar que o porto seja concorrido.

Mais aviões chegavam a Luanda e juntavam-se a nós no carrossel. Quase todos acima de nós. O último avião descolou e a torre informou-nos que o aeroporto estava aberto. Autorizou-nos a descer. Finalmente!


Preparando-nos para descer

«Now crossing 3’000 ft. Request final approach to Lima Uniform» informou o nosso piloto.
«3’000 ft. You are cleared to runway two-three.» confirmou um sotaque africano pelo rádio.
«Charlie, charlie. Two-three.»

Alguns segundos mais tarde, as rodas tocaram na pista com um barulho surdo. A viagem terminava. Olhei para o céu e muitos outros aviões faziam voltinhas, esperando a vez de nos imitar.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

3 respostas a “Final approach to Lima Uniform”

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  1. Echo X-ray charlie Echo Lima Lima Echo November Tango!

  2. e medinho la encima nada?????? rsrsrsrsrsrsr

  3. Muito bom Afonso,quase que me sinto lá em cima… voar em África é uma experiencia unica.
    Centenas de Km lá em baixo sem a presença do ser humano, só a natureza pura e dura…e maravilhosa.
    Tive o privilégio de voar com o meu pai muitas vezes para o Soyo(St. António do Zaire) , Cabinda, Cabo Ledo…
    Ainda hoje retenho na minha memória a sensação desses voos.

    Como curiosidade, o indicativo de matricula dos aviões(civis) no tempo Português era CR-AXX (Charlie Romeu, Alfa…)

    Abraço

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