Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

16  12 2008

Ritos de passagem

Num Sábado ocioso, como forma de vencer a preguiça que nos prende à televisão, nada como um passeio aos sítios que ainda não nos deixaram de marcar.

Ao final da tarde já não é tão difícil sair de Luanda. Na estrada de Viana já há troços onde se anda normalmente, com as obras a avançar a bom ritmo.

A Cabala, paragem obrigatória para quem vai à Muxima serviu de término ao passeio. Não é que a terra seja bonita ou interessante, mas aquela curva do Kwanza, com a sua jangada azul, acarinha a alma e quase sentimos os dedos do rio a fazer-nos um cafuné no espírito.

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Doce embalar aquático

A própria jangada, já a descansar e a preparar-se para o dia seguinte, é promessa de aventura. Liga a margem real à imaginária. Não é que a outra margem nos seja desconhecida, mas a fronteira líquida promete um mundo diferente, novidade e emoção.

A jangada é como um rito de passagem, em que as pessoas mudam ao passar de uma margem à outra. Ao ver o rio correr debaixo dos nossos pés e sentir o cheiro da lama das margens, damos por nós a pensar “Isto é África!”. É este contacto com a terra, ou melhor, com a Terra, que nos é desconhecido. África não é só paisagem, é também saber que nem tudo está garantido. Os pássaros fogem do alarido da buzina da jangada, que galga a margem. Atravessámos o Kwanza. Sei que estou diferente, embora não consiga perceber como, quanto ou porquê.

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Um saltinho

Quando a ponte estiver pronta, a Cabala perderá parte do seu encanto. Já não se tem de interromper a viagem, saíndo da nossa casca com ar condicionado. A ponte será apenas um pedaço de estrada com ar diferente. Até lá, temos de aproveitar o recanto.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

3 respostas a “Ritos de passagem”

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  1. Aproveita esse recanto e esse cafuné no espírito que sentes. O cafuné e os carinhos sabem sempre bem.

  2. É sempre bonito ter alguém que aprecia as nossas belezas naturais, infelizmente, a maioria de nós, angolanos, não está preocupada com isso, a ganância do poder e do dinheiro, faz esquecer quantas coisas belas tem o nosso país.
    Kandandu

  3. Olá!
    Tenho andado um pouco afastada dos comentários mas não das visitas. As suas fotos continuam lindas e os textos encantadoramente poéticos!

    Aproveito para lhe desejar(e aos meus sobrinhos Ricardo e Paula)boa viagem e, para si e sua família, um Natal feliz.

    Maria

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