Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

28  12 2008

Azul e branco, com um rabo à janela

Às vezes penso que já disse tudo quanto há para dizer acerca dos táxis de Luanda. Aqueles que não são táxis porque fazem serviço de carreira, mas que toda a gente chama táxi por tradição.

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Medo, tenham muito medo

À primeira vista, são milhares de furgões Hiace pintados de azul e branco. Depois percebemos que não são só iáces, há muitas outras versões japonesas e coreanas do pequeno furgão citadino. Há também muitas variações nos esquemas de cores com que as frotas são pintadas.

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Honesto

Em Luanda, a cor dominante é o azul clarinho, a que damos o nome de azul-cueca. Os táxis oriundos de outras províncias podem vir pintados com um azul escuro. Não sei bem a que se deve essa distinção.

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Novo acordo ortográfico

Em África, a vaidade impera e nem os táxis escapam. Cada proprietário procura decorar a sua viatura com um toque muito pessoal. Geralmente opta por pintar nos vidros ou nos painéis laterais uma chavão que o distinga dos demais.

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Mas não respeito os direitos alheios

Para os pulas e tugas, são sempre motivo de interese, uma desculpa para levar a máquina fotográfica à rua. Nunca se sabe quando se vai encontrar um nome mais engraçado que os outros.

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Promessas, promessas…

Ao fim de algumas semanas em Luanda, o CCRRUUIICC que as portas de correr fazem já nos é familiar. Adivinhamos os milhares de vezes que são abertas e fechadas, testando os limites estabelecidos pelo fabricante como aceitáveis. Algumas já não correm, saltitam na calha com um rangido mal oleado, ameaçando entalar um dedo quando escapam da mão.

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Sai da frente!

Imagem de marca é a super lotação. Carrinhas de nove lugares levam facilmente quinze ou vinte pessoas. O cobrador senta-se com o rabo de fora da janela da porta de correr e grita aos passageiros «Emagreçam»!

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Cabe sempre mais alguma coisa

A condução inimaginavelmente agressiva faz parte da ideia que se tem dos taxistas. Tudo vale para se ganhar dois ou três metros. Circular nas bermas, em contra-mão ou fechar cruzamentos, tudo é lícito. Ultrapassagens quase sempre mal calculadas e atirar a carrinha para cima de tudo quanto é buraco são apenas sintomas da ganância para ganhar mais uma corrida, mais um cliente.

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Dura Lex. Sed Lex. 

Nos cruzamentos compram latas de Red Bull, para afastarem o cansaço e as preocupações com a integridade do carro e dos passageiros. Por vezes os planos saem furados e os acidentes acontecem. O aparato é, geralmente muito superior às consequências. Um pequeno toque atrai sempre uma multidão para discutir acaloradamente as circunstâncias do acidente, decidir o culpado e quem paga o arranjo e cobre o prejuízo (mesmo que não haja danos).

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Vou chegar primeiro, vou chegar primeiro!

Se os cobradores andam de rabo de fora, os condutores conduzem apenas com a mão esquerda. A direita vai pendurada na janela ou a segurar a pega junto à porta. Os espelhos não são usados. É preferível ir encostando ao carro do lado. O outro condutor acaba por desistir.

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Cuidadinho

As generalizações costumam ser injustas, até mesmo nos candongueiros, porque nem todos são assim. Há alguns, poucos, que perceberam ser mais rentável fazer menos corridas por dia do que ganhar muito mas depois ter de reparar a viatura porque andaram aos saltos nos buracos. Levar demasiados passageiros também não é sensato, porque acabam por perder muito mais tempo nas cargas e descargas enquanto os passageiros se contorcem uns por cima dos outros e procuram um espacinho onde se encostar.

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Haja alegria

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Uma resposta a “Azul e branco, com um rabo à janela”

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  1. Tive a experiência de andar num candongueiro do mercado de S.Paulo até perto do Kinaxixe. Para definir a sensação é qualquer coisa como: o perígo é a minha profissão!
    Mas em contrapartida, tive a ambilidade do condutor e do “revisor”. Admirados com a presença daquela tuga com um ar tão descontraido, como se o candongueiro fosse o seu transporte diário, foram metendo conversa a que eu facilmente aderi. Ficaram espantados como eu me lembrava das ruas ainda que não soubesse o nome actual e ao se aperceberem do meu Kimbundo, disseram: a mamã anda é numa escola de línguas nativas! …bom elogio!
    Como presente fez questão de alterar a rota e deixar-me junto a casa.

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