Meto-me nojo
Afonso Loureiro
O Verão tropical não é particularmente quente. A avaliar pelas temperaturas mínimas e máximas, apenas a sua extraordinária monotonia se destaca. Trinta graus de máxima, vinte e cinco de mínima. É quente, mas nada de inusitado.
Aquilo que mais difere dos Verões temperados é a humidade no ar. O ar saturado, com o vapor de água a condensar aos 24º, torna a atmosfera pesada e pastosa. E isso é uma coisa que os termómetros não explicam.
O ar denso cola-se à pele e aos cabelos. Inspirar passa a dar trabalho porque o gás a que estamos acostumados é agora um fluido parecido com o melaço que não quer passar pelas narinas e se acumula no fundo dos pulmões.
Com esta humidade toda, o suor não evapora e os 30º do termómetro parecem muito mais. Tal como o vento aumenta a sensação de frio, a humidade exagerada aumenta a sensação de calor.
Não sou o maior fã de ar condicionado do mundo, mas dou por mim a ansiar o pequeno botão com a luz verde que diz A/C. Na maior parte das vezes até acho desagradável ter uma corrente de ar frio no meio de uma atmosfera tão opressiva, mas, assim que o desligo e começo a suar em bica, mudo logo de ideias.
No escritório cá de casa costumamos ter o aparelho de ar condicionado ligado, tentando manter uma temperatura civilizada entre os 24º e os 26º e sem muita humidade. Com os computadores ligados é essencial. Acontece que a purga entupiu e, até se resolver o problema, não o podemos ligar. Se o fizermos podemos assistir a um espectáculo de águas vivas a salpicar do ventilador até ao chão. Agora está desligado, mas vou-lhe deitando o rabinho do olho na secreta esperança de que tenha pena de mim e comece a trabalhar.
E com tanto suor que não evapora, andamos sempre com a roupa colada ao corpo, envolvidos num banho maria de água salgada. O cabelo empapa suor, a roupa empapa suor, as meias empapam suor e até as notas de Kwanza nos bolsos ficam húmidas e peganhentas.
Os pêlos do corpo habitualmente permitem dar conta dos mosquitos indesejados ainda mesmo antes de terem tempo de nos provarem o sangue. Agora, todos colados à pele, obrigam-nos a estar mais atentos aos bichos voadores.
No final do dia, a roupa tem um cheiro adocicado misturado com o pó de Luanda. Dou por mim agoniado com este meu cheiro a catinga e sensação de sujo. Passo as mãos na cara e no cabelo. Estão húmidos e peganhentos. A pele está reluzente, gordurosa. Meto-me nojo!
Vou para o duche.
Boa tarde amigo afinso. Elegi o seu espaço para o premio dardos (não é por acaso que é o primeiro da lista)
sugiro uma visita e desde já os meus parabens pelo trabalho desenvolvido e pela proximidade sufocante a cada palavra lida.
uma grande abraço
Caro Afonso,
Também é tudo o que eu quero, uma temperatura civilizada entre os 24 e 26 graus. Encontro muita dificuldade para transmitir esse conceito de “temperatura civilizada”. Muitos colegas acreditam que é necessário transformar a sala em um freezer para fugir ao calor. Inverno polar para substituir o verão tropical. Não espero que você concorde comigo, mas às vezes até acho bom quando o aparelho resolve enguiçar.
Abraços a 22 graus.