Insónia
Afonso Loureiro
Há dias, ou melhor, noites, em que o sono não chega de maneira nenhuma. O cansaço do dia longo obriga-nos a arrastar o corpo para a cama, antevendo uma noite descansada. O corpo pede repouso. A cabeça pede tréguas e os sonhos imploram para sair e brincar um pouco. Mas deitamo-nos e… nada. Os olhos não se fecham por si. Os sonhos não saem. Mudamos de posição, viramos a almofada ao contrário, coçamos a cabeça, esfregamos as pernas nos lençóis e… nada.
Desfiamos milhares de carneiros lanudos, em rebanhos que fariam inveja a muito latifundiário do ramo, mas o sono, esse, esconde-se algures. Não no meio dos carneiros, obviamente.
Tentamos um último recurso, a posição fetal e, respirando profunda e compassadamente, pensamos em esvaziar a mente. É remédio santo. Mas não hoje. Quando o nosso pensamento se resume a um pequeno ponto negro, baixamos a guarda e vêmo-lo crescer e a fugir em todas as direcções. Preocupações do dia-a-dia, recordações e planos de futuro misturam-se numa forma indomável de cor indistinta.
Deitamo-nos de barriga, com os braços cruzados à faraó, julgando conseguir conter a insónia no espaço que se forma debaixo do peito, para que ela sossegue e desapareça, mas ela escorrega e foge. Daí a pouco já nos fez desistir e voltar os olhos para o tecto. A almofada dá mais uma volta ou vai parar ao meio do chão, não importa nem adianta.
Os olhos ficam pesados e o corpo começa a reclamar. É hora de dormir! Mas não conseguimos. Não hoje.
Lá fora só se consegue distinguir o ressonar leve dos seguranças. Não há trânsito nem alarmes a disparar. Uma noite demasiado silenciosa para Luanda, talvez seja isso. Não, passam duas motas barulhentas que acordam os seguranças. Mas não me fazem adormecer.
Um dos candeeiros lá de fora apaga-se, como que me dizendo que eu devia fazer o mesmo. Só me provoca curiosidade acerca do motivo da súbita escuridão. E os padrões de luz e sombra na rede mosquiteira, que já tive oportunidade de decorar nas últimas horas, alteram-se profundamente. Repito o exercício e procuro nas manchas escuras algum carneiro que tenha ficado esquecido.
Quatro da manhã. Desisto de tentar adormecer. Aplicando a técnica da chaleira, declaro que me recuso a adormecer e que não preciso do sono para nada. Ele não cai no engodo e dou por mim sentado na cama a olhar o vazio, com os olhos pesados, mas sem sono.
Quatro e meia. Já que não durmo, ao menos que dê alguma utilidade à insónia. Vou escrever qualquer coisa. Levanto-me e ligo o computador. Começo a ouvir os reguladores de tensão a dar estalos. Queres ver que se vai? As luzes lá fora apagam-se e o sinal de bateria fraca acende-se. Foi-se. Desligo o computador e penso regressar à cama. Não, o sono continua longe. Troco a bateria às escuras, com cuidado para não fazer barulho, que as insónias só me atacaram a mim. Ligo-o de novo. Que cansaço! Os olhos teimam em abrir quando sei que o que mais desejam é fechar-se por umas horas valentes.
Quando estamos extenuados e sem forças para organizar os pensamentos, as palavras saem mais fluidas, porque já não pensamos nelas, são elas que ganham vida própria e pensam por nós enquanto escrevem a história, tal como fazem hoje. Preferia tê-las apenas sonhado.
Cinco da manhã. O gerador da casa do lado já trabalha. Vou aproveitar a canção de embalar e tentar dormir, finalmente. Até amanhã.
É uma sensação tão má a de querer dormir e não conseguir… só te posso desejar umas boas noites repousantes com bons sonhos e não deixes que as preocupações diárias te tirem o sono.
Tenho andado a ver-te mesmo e a verdade mesmo é que já começaste a ser menos cabrão com os angolanos.Nada melhor que vos amaçar mesmo.Os pulas tugas metem logo o rabo nas pernas e ala que parar é Lisboa.
Mas há mais blogs do tipo dos teus.
vou lá zunir tambem!
juizinbho menininho!