Gulodices: Bolo de caneca
Afonso Loureiro
Já há muito que não falava das minhas aventuras culinárias. Aproveitei um serão em que fui mais guloso para fazer umas fotografias e mostrar a vida secreta da cozinha cá de casa.
Há dias em que apetece comer qualquer coisa doce, mas a trabalheira que temos até ela estar pronta acaba por nos fazer desistir da ideia. A Preguiça vence a Gula. Quem diria que os pecados capitais também têm hierarquias? Felizmente que existe a internet, para que os gulosos preguiçosos possam partilhar as suas técnicas secretas para aplacar estas suas imperfeições.
Comecemos com alguns utensílios básicos. Colheres de sopa para as medidas, uma caneca e um microondas (mais uma máquina para preguiçosos). Aproveitamos e juntamos açúcar, farinha, óleo, leite, chocolate em pó e um ovo.
Prontos a começar
O primeiro passo é escolher a forma apropriada para o bolo. Neste caso, como somos muito preguiçosos e egoístas (outro pecado), usamos uma caneca para fazer um bolinho só para nós.
A forma. Não precisa ser untada
Dentro da caneca enfiamos, sem grandes cuidados os ingredientes sólidos.
Começamos com quatro colheres de farinha
Se as colheres forem fundas, é melhor fazer as medidas com as colheres rasas. Arriscamo-nos a que não caiba tudo na caneca. Fala a voz da experiência.
Quatro colheres de açúcar
A quantidade de açúcar usada é para os chocolates mais amargos. Se for daqueles docinhos, duas ou três bastam.
Duas colheres de chocolate em pó
É aconselhável ir misturando os pós todos, para depois o bolo ficar homogéneo.
Um ovo junta-se à mistura
Com jeitinho, para não deixar cair cascas, partimos um ovo para a caneca. Tentamos mexer o melhor que pudermos, mas é tarefa quase impossível.
Três colheres de leite
Ajudamos com um pouco de leite e agora lutamos para descolar a pasta da colher sem que venha tudo por fora. Quem raio teve a ideia de fazer um bolo numa caneca?
Mais três colheres de óleo
Desistimos de descolar a massa da colher e juntamos um pouco de óleo. Aos poucos, a massa vai ganhando uma consistência animadora. Quando estivermos fartos de mexer ou acharmos que já está tudo bem misturado, descobrimos que afinal ainda não está e pequenos grumos brancos surgem na mistela castanha. É preciso insistir e mexer mais um pouco.
Parece que está
Tiramos a colher e verificamos se tem farinha agarrada. Se tiver, é sinal de que ainda é preciso mexer mais. Maldita caneca!
Directamente para o microondas
Chegada a altura de cozer o bolo, viramos as costas ao forno e colocamos a caneca no prato do microondas.
Três minutos na potência máxima
Apertamos uns quantos botões e esperamos, enquanto uma caneca gira lá dentro. Aos poucos, um monstro nasce da massa castanha. Sobe e contorce-se em formas estranhas. O microondas pára e está pronto.
Filme de terror
Com cuidado desenformamos o bolo, isto é, seguramos a caneca pela asa e viramo-la para um prato. Se tudo correr bem, uma coisa castanha e dura há-de bater na porcelana… e sim, parece uma poia.
Et voilá
O exemplar fotografado ficou mal mexido, mas já estava a desesperar com a caneca que escolhi.
Caro Afonso Loureiro:
Acompanho o seu blog já há algum tempo porque vivi alguns meses e até há relativamente pouco tempo, em Angola ( K Sul) e, apesar de não ter bebido a água do Bengo, sinto saudades desse céu e desse ar que se respira nessas paragens. Ao acompanhar este e outros blogs escritos por portugueses e brasileiros em Angola sinto-me mais próxima do que por aí se vive e dos meus familiares e amigos que ainda por aí se encontram.
Antes de mais dou-lhe os meus parabens pelo que escreve… só lhe peço que continue… é fácil perder a vontade face a comentários infelizes e sobretudo ignorantes …
Porquê comentar este post? Porque me fez rir com uma recordação de uma única (não houve coragem para mais) aventura culinária envolvendo bolos que vivi no Kwanza Sul. Como imagina, na cozinha mulher não brinca! Pois eu tinha tudo: forno, forma, batedeira (manual), receita e claro os ingredientes. O meu bolo simples virou “panqueca” mesmo! Depois de seguir á risca todas as instruções da receita … eis que o meu bolo é uma “coisa” patética que não me atrevi sequer a provar, quanto mais exibir a quem quer que fosse! Por isso parabens! Conseguiu que o seu bolo tivesse se não o sabor pelo menos o aspecto de um “bolo”!!!
Mais uma vez parabens e obrigado por partilhar as suas perspectivas de Angola! Felicidades!
Hahahahaha, muito bom
Mas realmente que egoísta, um bolo só para ti?
E numa caneca que diz …café? É óbvio que o bolo se sentiu ofendido…e saíu com má cara!
És tão guloso!
Fica prometido: um dia que eu vá a Luanda hei-de arranjar maneira de lhe fazer chegar às mãos (ou à boca) um “super” Bolo de Chocolate, com cobertura e tudo! não desfazendo da qualidade do que aqui nos apresentou, nem do aspecto…que, à primeira vista, me parece merecedor de estar numa loja de objectos fálicos:)
Há tempos estou com vontade de fazer um bolo de caneca! Já reuni os ingredientes várias vezes, mas a preguiça e o medo do fracasso total estavam falando mais alto. Sua experiência é muito alentadora. Vou tentar também. Obrigada por compartilhar.
Esse bolo, em vez de bolo de caneca, deveria chamar-se: bolo colher a colher, ou bolo às colheradas. A descrição das várias fases de confecção do dito estão muito bem apresentadas. Já pensaste em escrever um livro ilustrado com receitas para principiantes?
Bom apetite, guloso.
Epá! Espectacular! tenho que experimentar isso…mas só quando a cozinheira for às compras -;)
Nesta casa de muita gente o bolo da caneca há muito é prato do dia. Dou só um conselho: farinha passa a 3 colheres e óleo a 1. Podes fazer sem chocolate, juntar côco, bocadinhos de maçã, optar por não pôr açúcar e juntar oregãos e queijo, bocadinhos de chouriço, o que houver, sai sempre bem. Também pode crescer e em vez de caneca passar a saladeira. Nesse caso pára o micro-ondas na metade do tempo, mexe a mixórdia e dá-lhe outro tanto. Fantástico! Bom apetite!
Receita fantástica! E sem refugado 😛
A Teresa já babou a olhar para a receita e uma vez que só “cozinha” no micro-ondas, diz que agora já pode fazer bolos!
Eu por mim vou experimentar a versão com chouriço, bacon, oregãos e queijo 🙂
um abraço
Resultados do nosso bolo de caneca:
1º alterámos alguns parâmetros, trocámos a caneca por uma almoçadeira e chocolate em pó por chocolate de culinária derretido em banho maria (porque será que tem este nome?).
Usámos também as doses corrigidas pela São (obrigado).
Misturámos tudo, bem mexido para não ter grumos de farinha e foi ao micro-ondas durante 3 min.
Começou por crescer imenso chegando quase a sair fora mas quando o micro-ondas fez “plim” foi ver o bolo a encolher….
Depois de espetado com um palito, decidimos colocar mais 2 min (foi demais) e o bolo voltou ao seu ciclo de crescer para depois voltar a mirrar.
Desenformámos e passámos à prova!
Nada mal, um bocadinho doce demais, cozeu muito por baixo mas sabia bem.
Ao lanche voltamos a tentar 🙂
Desta vez vamos voltar às 4 colheres de farinha e pôr 4 min no micro-ondas.
um abraço