A vaca mwangolê zunga bwé
Afonso Loureiro
No meio de uma conversa acerca de um qualquer assunto, que agora não vem a propósito nem me lembro qual era, calhou falar-se do desdém que os angolanos têm à carne nacional (os que podem escolher, entenda-se). Fiquei a saber que não se lhe opõem por princípio ou por ser moda comer carne brasileira, afegã ou islandesa. É mesmo por ser dura.
Quando vão ao talho, lá está pendurada a desgraçada carcaça de vaca, por vezes assediada por moscas insistentes, abatida para carne porque já não servia para mais nada. A idade e os milhares de quilómetros que percorreu ao longo da vida deixaram-lhes as carnes duras e sem gosto.
Um criador de gado angolano (criador angolano de gado angolano talvez fosse mais correcto, mas fica repetitivo), entrou na conversa e perdeu alguns minutos a fazer contas. Disse-nos que os criadores tradicionais têm de percorrer grandes distâncias entre os pastos, os currais e os bebedouros com o gado. Assim por alto, dez quilómetros para a água, outros tantos para o pasto e repetem tudo ao final do dia, de volta aos cercados. Ao final da vintena de anos que costumam durar, as pobres vacas já calcorrearam perto de 300’000 km.
O mais-velho da mesa, até então calado, disse-nos que só comia carne brasileira. Que fugia da carne nacional, com o seu aspecto seco e duro. E depois contou-nos alguns episódios acerca do assunto. Descobri que parte da carne do Lubango que se vende em Luanda não é transportada em camiões frigoríficos ou em camiões sequer. Vem para a capital a pé, pelos antigos caminhos da transumância. O pastor demora cerca de seis semanas para trazer a manada da Huíla até ao matadouro, em Luanda. Depois regressa de táxi e forma uma nova manada durante o mês seguinte. E recomeça o ciclo, manada a manada. Mesmo que as vacas fossem novas e de carne macia, com semelhante caminhada, ficam a parecer feitas de sola.
Parece que nesta terra tudo zunga para trás e para diante, dirigindo-se para um destino mais ou menos incerto. As mulheres, com um alguidar à cabeça, fazem-no para ganhar a vida e o gado para encontrar a morte, a caminho de um qualquer prato.
Bem…vaca angolana só para fazer carne picada, não? E a picadora tem de ter lâminas fortes…
Não dá mesmo gosto de comer uma carne tão andarilha
Na terra dos meus pais, sempre que a carne é rija diz-se que “Carregou pedra para a Sé da Guarda”, em Angola a carne é rija não por ser velha, mas porque o animal exercitou bem os seus músculos. Assim uma coisa é certa não há gordura nenhuma, só músculo.
Vão embora mesmo seus pulas.Não vão a bemn tem de ir mesmo a mal, ganham o kumbu aqui senão morriam de fome e ainda falam mal de Angola.Estamos mesmo a ser vigilantes nos vossos blogs.PQP
Exmo. KeNãoInteressa,
A porta da rua é a serventia da casa. Se não gosta do que lê, tem bom remédio, não leia. Se não gosta do que come na Cova da Moura, também tem bom remédio, volte para Angola e ocupe o lugar que lhe foi “roubado” por um expatriado. Talvez lhe saiba melhor esse Kumbu…
Aturei os seus comentários boçais e primários vezes demais. Contribuíram apenas para estragar a boa imagem que as pessoas começavam a ter dos angolanos. Ou melhor, as pessoas continuam a ter boa imagem dos angolanos, têm é má imagem das bestas como V.Exa.
O que me alegra é que por cada besta que me quer mal, há três angolanos que me querem bem.
Esta é a minha casa. Aceito que discordem de mim, mas não tolero má-criação.
Seja muito feliz, que os seus comentários, enquanto não revelarem um mínimo de educação, não voltarão a ser publicados.