Uma partida de futebol
Afonso Loureiro
A vista da janela do meu quarto, quando cheguei a Luanda, consistia num lote vazio cheio de lixo. As crianças jogavam à bola lá dentro, evitando pisar cacos e latas enquanto faziam pontaria às balizas improvisadas.
Um dia limparam o lote e os jogos passaram a ser mais animados, com mais olhos na bola que no chão. Muitos gritos e risadas mostravam o divertimento.
Entretanto, o dono do terreno resolveu vedar o lote. Ergueu chapas altas, fechou os portões a cadeado e os jogos de futebol acabaram. Pelo menos até alguém soltar duas chapas.
Agora, com um verdadeiro estádio para jogar, as equipas são mais numerosas e os jogadores ensaiam jogadas habilidosas.
Eu, que até nem gosto de futebol, ganhei um camarote com vista para o campo. Mas aprecio a alegria dos rapazes que, lá em baixo, correm atrás da bola e uns dos outros, marcando golos sonoros contra as chapas onduladas.
Fintas
A alegria em jogar á bola mesmo de pés descalços. Sem duvida que a alegria é mais do que bens materiais.
Os poetas angolanos Viriato da Cruz e Luandino Vieira têm dois lindos poemas aos jogadores de rua. Recomendo.