Angola à cabeça
Afonso Loureiro
Por toda a Angola se vêem mulheres com coisas à cabeça. Cargas grandes e peuqenas, leves ou tão pesadas que são precisas duas pessoas para as erguer, desde comida a combustíveis, passando por ferramentas ou guarda-sois.
Acredito que se, de um momento para o outro, as estradas e os camiões falhassem, os circuitos de distribuição não parariam. As mulheres meteriam mãos à obra, ou melhor dizendo, cabeças à obra, como fizeram desde sempre, e manteriam o país abastecido.
Tenho assistido a verdadeiros prodígios do equilíbrio e força em cada mulher com quem me cruzo que leva a vida à cabeça.
Aquilo que vemos no Circo, com equilibristas que dançam equilibrando uma pilha de jarrões chineses na testa, é brincadeira de crianças. Transportar um alguidar de mangas mais pesado que a própria, enquanto se amamenta a criança equilibrada nas ancas e se faz negócio, isso sim, é uma proeza. Aliás, julgo até que estes números de equilíbrio não sejam muito apreciados pelo público africano. É talvez como um português ir ao Circo e assistir a alguém a comer caracóis…
Desde que começam a andar, que as meninas se habituam a equilibrar coisas no alto da cabeça. Aprendem a mexer apenas os olhos quando é preciso mirar algo que não esteja mesmo em frente. Aprendem a menear o pescoço para manter sempre a cabeça direita e não entortar a carga. Baixam-se olhando em frente e seguem caminho, arqueando as costas a cada passo.
Cuidado
Ganham um andar elegante, que faria inveja a muita debutante austríaca que se esforça por dar dois passos com um livro à cabeça.
Se levassem Angola à cabeça e não apenas as coisas de Angola, tendo um papel mais activo na governação do país, aposto que esta seria uma terra bem diferente.
Um quiroprático nessa terra tinha sempre clientes!
Não há dúvidas que as mulheres são mesmo o sexo forte…