Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

30  01 2009

Janeiro, planalto central

Ainda acho bizarro contemplar dias de Verão em pleno Janeiro, época em que habitualmente se tirita de frio e se sonha com a chegada da Primavera.

No entanto, um dia de Verão no Planalto Central de Angola é algo de agradável e variado.

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Apreciando a brisa

Em Janeiro ainda não começaram as grandes chuvadas e só caem uns pingos por dia. O céu vai-se enchendo e esvaziando de nuvens como se sofresse os efeitos de uma maré celeste. Nuvens altas e finas, quase farrapos, e nuvens baixas, que parecem um rebanho de ovelhas a caminho da tosquia. Ao longe, em três ou quatro pontos do horizonte, vê-se chover. Uma mancha escura liga o céu à terra. Daqui a pouco uma dessas manchas passará por aqui. O vento precedê-la-à, mas sem grande convicção. Depois vêm as gotas grossas e quentes, que vão molhar a terra. Assim que passa, o que costuma ser rápido, a água que desceu começa a evaporar em fugidias neblinas e procura voltar ao céu, para não perder a boleia das nuvens. Daqui a umas horas volta a cair.

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Farrapos de nuvens 

Com um pouco de sorte, ainda somos brindados com um tímido arco-íris ou alguns relâmpagos e trovões abafados, que quebram o cinzento do horizonte.

O Sol vai furando as nuvens, cobrindo a terra de malhas claras e escuras, fazendo-nos querer ficar mais umas horas a apreciar esta dança da Natureza.

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Dança lenta

Só posso concluir que os Generais que fizeram a guerra nunca assistiram a este espectáculo. Se o tivessem feito, de imediato mandariam calar as armas, porque perturbavam a contemplação desta Paz de que nos invade.

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Calmaria

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

4 respostas a “Janeiro, planalto central”

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  1. aiué mama ué o ser humano é tao pequeno diante de tanta beleza … oh minha terra 33 anos sem sentir o teu cheiro … nao perca a opurtunidade de comer loengos e lonchas frutos selvangens tipicos do planalto passe pela vila nova chicala tcholoanga meu kimbo
    olalipo caté

  2. Pois por cá chove que se farta e faz um frio danado! Entre alertas amarelos da protecção civil, os nevões no norte e centro e a humidade que se entranha pelos ossos, lá vamos nós aguentando um janeiro de inverno aqui no cantinho à beira mar plantado. Abraço….

  3. É sempre com agrado que entro neste blog. Está entre os meus favoritos pois que estar nele é viajar no espaço Angolano; saber mais e mais coisas com interesse: Desejo ao Aerograma com o Afonso Loureiro um ano de 2010 auspicioso.Um abraço do cidadão do mundo T´Chingange de Maceió no Brasil

  4. Meus amigos de Angola
    Depois de 35 anos afastada da terra onde nasci….Voltei, e voltei exactamente para a terra que me viu nascer VILA-NOVA.
    Não imaginam como é bom viver no meio de um silêncio ensurdecedor. Reconstruimos uma casa familiar, deu uma trabalheira tremenda, porque a guerra não comtemplava nada, mas hoje é a casa mais linda da terra, houve durante as obras, alturas em que pensei que todos os rios nasciam exactamente naquele quintal, em todo o lugar nascia água, mas depois de muita luta…conseguimos fazê-la correr por debaixo da terra, uma aventura.
    Da varanda vejo em frente a escola primária, toda reconstruida, rosa e cinza, está bonita,mas ainda não vi nenhuma criança pelas redondezas, nesta altura lembro-me da professora Celestina, mais conhecida por CEly, e do Professor Francisco.O parque está a ser recuperado, o lugar onde se faziam as festas de Santo António está lá, integro, até o lugar das rifas lá está, todo pintadinho, a única alteração que se notae bem, é que no topo está uma antena parabólica enorme, ah aqui há televisão por satélite, quem diria??aqui na VILA_NOVA?? Ao lado está a casa do Xico Peso, lembro-me que uma das bonecas que ganhei em um Natal muito distante, foi comprada ali ainda era a loja da Dona Odete. A Igreja está totalmente reconstruida, fui à missa no Natal, foi lindo, o Sr. Padre, durante o Sermão, falou em Umbundo e falou em gente nova na terra (eramos nós) queria que a população nos desse as boas vindas e que deveriam ver como nós viviamos e tentar fazer igual. Já temos luz, das 18h ás 22h. Lojas..ainda não há. A casa do Roldão, o Homem que curava toda a gente, está transformada numa pousada. Há um pequeno mercado que faz essencialmente troca de bens alimentares. O clube existe, não percebi bem o que lá se passa, mas não é nenhuma igreja, dessas que compram tudo que é cinema. O Hotel deixou de ter tecto exactamente uns dias depois de cá estarmos, uma pena. O campo de futeboll foi todo feito de novo, não tem relva, mas dá algum movimento à terra, consegui contar 37 pessoas numa tarde de Domingo, coisa rara, há muito pouca gente ali, e como iam todas na mesma direcção, não resisti em perguntar para onde iam, exactamente, iam ao futeboll. As ruas estão asfaltadas e toda a Vila está sempre limpa e há sempre alguém a capinar alguma erva que se atreva a aparecer. Ainda nos observam com alguma reserva, acham que correr com a minha cadela não deve ser muito normal. Gostava de poder estar mais tempo na terra, mas o trabalho é no Huambo, apenas 42 km de boa estrada. Aproveito ainda para dizer, que os Sobas locais já nos vieram dar as boas vindas e pedir para trazermos mais gente da nossa…Nossa??nós somos eles. O meu marido é português de Portugal, eu portuguesa de Angola, angolana de nascença e de identidade. Amo Angola, amo as Boas-Águas…terra onde cresci mas está meio esquecida, a Escola está nova e tem um posto médico, mas mais uma vez saliento…crianças não vi…já comi loengos e lomuinhos…NASCI NO MEIO DO MATO E É LÁ QUE QUERO MORRER.

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