Futuro
Afonso Loureiro
Desde que a guerra terminou que o governo angolano tem feito um esforço para reduzir o número de armas ilegais em circulação. As campanhas de entrega de armas de guerra têm tido algum sucesso, mas, como sempre, apenas as pessoas de bem entregam as suas. Nos jornais oficiais apela-se à necessidade de haver um desarmamento completo da população civil, a bem da democracia. As eleições estão à porta e não convém haver ânimos exaltados e armas misturadas. Aliás, as eleições só são possíveis porque há uma melhoria das condições económicas e uma maior estabilidade social. As estradas que ligam as várias províncias já são mais seguras e os bandos armados são perseguidos.
Por outro lado, o MPLA vai ganhar as eleições com maioria absoluta. As acções de campanha têm sido eficazes e a voz da oposição está demasiado fragmentada para causar mossa. Nas minhas voltinhas por Luanda tenho visto muitas sedes nacionais dos pequenos partidos da oposição. Creio que são 98 forças diferentes a concorrer às eleições. Na Rádio Angola ouvem-se notícias que dão conta de acções de massas (comícios), a entrega de equipamento escolar e de reinaugurações (cá como lá) de centros de saúde ou de mercados.
Para que não haja dúvidas acerca dos resultados eleitorais, estão a ser criados todos os mecanismos legais de controlo e observação. A experiência do Zimbabwe mostra que a credibilidade internacional das eleições africanas não se consegue apenas com a nomeação de um governo. É preciso mostrar que foram justas. O MPLA não precisa de se preocupar. Até os homens de Savimbi, segundo o Jornal de Angola, estão com ele.
A única voz discordante que se ouve é a da Rádio Despertar. No âmbito dos acordos de paz, a VORGAN continuava a emitir, mas sob este novo nome. Pelo estilo de notícias que emite, parece-me o jornal Avante cá do sítio.
Até 2012 vão ser renovados doze mil quilómetros de estradas por todo o país. É um primeiro passo para a melhoria das condições de vida. Apesar de Angola ser um país extraordinariamente rico, não consegue tirar proveito da sua riqueza por falta de vias de comunicação e 95% do seu produto interno bruto deriva do petróleo. Com tantos recursos minerais e agrícolas, o país não deveria depender tanto do petróleo. Mas enquanto não houver estradas ou caminhos-de-ferro a funcionar normalmente, como se escoam os produtos?
Há cerca de uma semana, a ligação ferroviária de Luanda a Malanje foi restabelecida e a produção agrícola dessa zona fértil poderá chegar à capital.
A renovação da rede viária permitirá também o regresso de muita gente às suas províncias de origem, reduzindo a pressão humana sobre Luanda. Não faz sentido que metade da população de um país se concentre, sem condições, à volta da capital. Espaço aqui não falta.
Desde que cá estou já assisti a uma campanha de vacinação em massa das crianças até aos cinco anos. A doença focada, desta vez, era a poliomielite. Ainda se vêem pessoas com marcas do polio. Algumas muito novas.
Entretanto, também se estão a fazer campanhas nas rádios para explicar o objectivo dos censos que se avizinham. Numa linguagem muito simples, explicam que pretendem conhecer as condições de vida dos angolanos e que as respostas devem ser verdadeiras.
No bairro do Cassenda a criminalidade subiu e a explicação oficial é o grande número de jovens desocupados. No meio dos muitos angolanos trabalhadores, há uma minoria de rapazes que se sustentam das esmolas dos brancos, das lavagens de carros e do guardar lugares de estacionamento. Sem aspirações, o pouco que recebem equivale a um dia de trabalho esforçado dos carregadores, vendedores e condutores. Lavar carros na via pública é proibido em todo o mundo. Em Luanda faz parte da paisagem e tem sido grandemente ignorado. Há problemas piores. Mas as autoridades perceberam que é também uma fonte de sustento dos desocupados e controladores. Foi anunciado que nas Ingombotas (onde moro) a polícia vai estar atenta aos lavadores de carros.
Angola quer evitar importar mão-de-obra, mas, acima de tudo, quer evitar que apenas os estrangeiros lucrem com a riqueza do país, pelo que as empresas têm de respeitar quotas mínimas de trabalhadores angolanos. É um ponto de vista com o qual concordo plenamente. Quando se trata de técnicos especializados, é inevitável contratar estrangeiros porque ainda não há quadros nacionais suficientes. O que choca e vai contra as pretensões angolanas, é a importação de mão-de-obra não especializada. Há trabalho para fazer, muita gente ao alto e importam-se operários da China.
Há muitos exemplos deste fenómeno um pouco por Angola, mas a mim basta-me olhar para a rua onde moro. Pelas onze da noite começa-se a ouvir a máquina de cortar asfalto, que não passa de uma serra circular com rodas e que trabalha a gasolina. Faz uma barulheira ensurdecedora. Passa debaixo da minha janela, que é no primeiro andar… Habitualmente tenho de dormir com o barulho da clientela do salão de jogos do rés-do-chão (que foi uma casa de alterne no tempo do colono). Agora é a máquina. Depois vem o martelo pneumático e a escavadora. Não há sossego. Vou à janela ver quem trabalha a estas lindas horas. Um brasileiro e um chinês, nenhum angolano (não era preciso controlar). Às duas da manhã as máquinas param. O brasileiro começa a cantar. Seria uma serenata?
Cá por casa já temos bomba. Não estamos totalmente dependentes do abastecimento público. Com 3000 litros de reserva devemos estar mais ou menos descansados.
Espero que Angola consiga renascer das cinzas… integrar a população é fundamental, porém a mentalidade africana é fazer tudo com calma e sem stress, neste momento é preciso dar outra dinâmica para que o país ande para a frente. As mentalidades têm de mudar e ainda há muito para aprender.
Olá Afonso
Parece que voltas-te a escrever. As coisa por cá continuam na mesma, o petroleo e os preços sobem todos os dias só não sobem os salarios, quem sabe ainda não vou até Africa.
Um grande abraço e vai passando pelo nosso blog do NALGA,pode ser que encontres em Angola algum motivo para um post.
Um abraço
P.S. Continuas com o mesmo e-mail?