Ortografe ao acordar
Afonso Loureiro
O Acordo Ortográfico que se diz já vigorar em todo o mundo lusófono chegou em força a Angola. Creio que ninguém prestou muita atenção às regras que se alteraram. No fundo, memorizaram o resumo breve do texto: escreve-se como se diz. E mái’nada!
Por iço, ôje acurdei xeio de vontáde de chcrever com o sutak lisboeta asserca de kem chcreve com o sutak mwangolê.
Chega! Não sou capaz de continuar! Que cretinice! Queiram ignorar a frase acima.
É bem preferível que se escreva, mesmo que com erros, do que ter receio de mandar uns pontapés na ortografia, gramática e aritmética. Não faço juízos apressados quando vejo erros da pena de quem pouca instrução teve. A mensagem passa e isso é que interessa.
Não exite, alugue o seu fato com calda
No Huambo, encontrei um cartaz de um negócio novo. Uma empresa que aluga vestidos de noiva e fatos de cerimónia para os noivos espalhou publicidade pela cidade inteira. Inicialmente pensei «He! He! Exite! Que grande bacorada!» Mas depois reflecti um pouco e achei que até nem devia estar a gozar. Numa terra onde muita gente não sabe escrever o nome, aquele cartaz até estava muito bom. Um cartaz bem concebido graficamente e com apenas duas ou três mazelas ortográficas. Parabéns!
Plenamente de acordo! Acho-o um belo cartaz!
O problema é quando esse “exite” sai num comunicado de uma associação de alunos de uma escola secundária em Pt, rubricado e autorizado pelo respectivo presidente do CE e só foi corrigido depois de uma profª de CFQ(da área das ciências, portanto)ter chamado a atenção para o erro! Pior ainda, foi quando essa profª, antes de alertar o CE, pediu a uma colega da área de Letras para ler o texto do comunicado e esta lhe disse que não encontrava erro nenhum!!! Devo acrescentar que, nessa escola, os prof de Letras, em geral, e até o presidente do CE, subestimavam a capacidade literária, sobretudo a escrita, dos seus colegas “científicos”…
Será que nas outras também acontece isso? 😉
Continuação de bom trabalho.
Maria
Muitos dos erros de ortografia cometidos por muitos angolanos resultam do facto de o português não ser a sua língua materna. É uma segunda língua, que eles não dominam tão bem como o idioma em que aprenderam a falar (no caso dos naturais do Huambo, o idioma materno é o umbundo).
Quantos de nós poderemos gabar-nos de escrever em inglês (ou em francês ou em alemão) sem erros?
A minha única questão é se o teu fato será com calda ou sem calda…
Se fossem só os nativos de umbundu a dar calinadas na ortografia… Nas minhas viagens pelo cantinho a que chamei casa durante 30 anos encontrei piores do que cá!
Deve ser dificil a resposta… eu percebo eu tmbém teria dificuldade em responder…