O ingrediente secreto
Afonso Loureiro
Lá para os lados do Miramar, bairro fino, com embaixadas e casas de gente rica, há uma hamburgaria famosa. Chamam-lhe, como não podia deixar de ser, a Hamburgaria do Miramar. Fica numa das avenidas que contorna o cemitério do Alto das Cruzes e, ao fim-de-semana, é muito concorrida.
Mal cai a noite de Sexta-feira, os carros dos clientes começam a entupir a rua, cada um estacionado em sítio pior que o anterior. Três e quatro filas de carros parados de cada lado dificultam muito o trânsito. E com tanta confusão, é natural que os assaltos sejam mais frequentes. A situação é tão previsível que os moradores das ruas em volta preferem dar voltas maiores e evitam por ali passar a certas horas.
Lá do Miramar
A altas horas da noite, o parque automóvel em frente à loja é do melhor que se pode ver em qualquer parte do mundo. São as motas de corrida japonesas com cores berrantes, são os jipes topo de gama dos mais variados tamanhos e feitios, são os Jaguar de pintura polida, são os BMW de vidros fumados, são os carros das amantes e os das manteúdas, mas nada de Toyotas Corolla ou outras coisas que o povo conduz.
Com tanto restaurante, roulote, lanchonete, fundo de quintal e hamburgaria em Luanda, porque há-de aquela ser tão famosa? Ninguém sabe ao certo, mas quase todos desconfiam. Devem usar um qualquer ingrediente secreto que os distingue da concorrência. Dizem que por ali se vende mais que hamburgers. O segredo é a alma do negócio, mas nesta terra todos desconfiam do sucesso rápido e da riqueza fácil. Geralmente é sinal de negócios escuros, feitos mais ou menos às claras.
Melhor, isso não fica nas proximidades duma maternidade ou um serviço de saúde qualquer?
Tal como os carros, provavelmente são negócios “di amante”.
Sim, fica perto de uma maternidade…
É tirar só o pé…