Animais invisíveis
Afonso Loureiro
Quando se fala em África, imediatamente se pensa em animais selvagens como os que aparecem nos documentários dos fins-de-semana televisivos.
A minha estadia em Angola não se tem resumido, como muitos, a Luanda ou outra grande cidade. Tenho percorrido muitas estradas esquecidas e visto muitas paisagens soberbas. O número de animais selvagens que avistei é que tem sido uma desilusão. Resumem-se a alguns pássaros, dois pequenos bandos de macacos, lagartos, osgas, ratos, mosquitos.
Nos mercados já vi uns quantos veados e pacas prontos a entrar na panela, mas acho que esses não contam. Tal como não devem contar as peças de caça que se vendem na berma da estrada.
Mesmo sobrevoando as terras mais a sul, nem rastos de veados se encontram. As chanas, locais habituais para encontrar os bichos, estão desertas. Com o início das chuvas as pastagens não se resumem a estas terras alagadiças e isso poderá explicar a ausência dos animais.
Dizem que no parque da Quiçama, às portas de Luanda, há girafas e elefantes importados. E avestruzes que falam Botswanês ou Zambiano. Fico com uma certa curiosidade em ir lá dar um passeio, mas será que isso não é apenas ir espreitar um jardim zoológico mais espaçoso?
Contam os mais informados que até nas Terras do Fim do Mundo, lá para os lados do Rivungo, os animais se recusam a passar a fronteira. Do lado de cá há as minas, que não estropiam só humanos…
Talvez no Cacimbo, com as pastagens mais secas, as chanas se encham de animais e possa ver a vida selvagem que tanta fama traz a África.
O tempo todo que estive em Angola não posso dizer que vi muitos animais selvagens.
Vi um bando de macacos na barra de Kwuanza e um jacaré nas Cachoeiras perto do Sumbe. E fui ao parque da Quissama.
Apanhei uma desilusão no parque da Quissama..além de ter sido obrigada a levantar-me de madrugada pa ver os bichinhos, a verdade é que só vi um par de avestruzes e um elefante que tava longe pra xuxu!
Bem mas isso ja foi há uns anos, agora pode estar bem diferente. Hehehehe
Se for para sul poderá encontrar com muita sorte um ou outro varano, em zonas pouco povoadas por humanos, mas tem que ter mesmo muita sorte. Agora, mosquitos há aos milhares!!!
Olá
Passei o fim de semana na Quiçama.
Vimos, exactamente, 4 bois-cavalos, 7 impalas (Acho que era a mesma a correr depressa de um lado pro outro…), dois antílopes e uma águia. No dia seguinte viram 4 girafas.
Segundo consta vao injectar leões não tarda. Bichos esses que vão comer as 7 impalas e os bois-cavalos…
Bos sorte
Rita
Cruzes canhoto! Dá-me cá um aperto pensar numa Angola assim!!!!! Lembrar visitas à Quiçama onde vi tanto animal à solta e ouvir-vos falar nela quase desertificada mexe mesmo comigo. Cadê tantos e tantas espécies que se encontravam? Pois já sei, nem carece explicar, só custa imaginar. Ainda há dias ali num outro post sobre cães que gerou grande polémica, lembrava que ainda em tempo de recolher obrigatório, não se viam cães em Luanda quando aí estive. Diziam na altura que em tempo de guerra muitos mataram a fome e mesmo quem adore animais como eu, percebe que as leis da sobrevivência se impõem muitas vezes ao politicamente correcto estipulado. Quem via pela estrada da Ilha fora crianças de barrigas proeminentes com os corpos cheios de feridas pustulentas a serem devoradas por moscas e ainda guarda os olhares profundos e os sorrisos de esperanças só por receberem uma festa, percebe tudo e mais umas botas. Dê-se tempo ao tempo de reconstrução e acreditemos que novas prioridades hão-de surgir para que se voltem a ver muitos animais em habitat natural e que antes disso, as preocupações políticas e governamentais se centrem nas muitas carências da população que não se basta a si própria, no saneamento básico, na melhoria e investimento em educação, saúde e transportes. É um tal caminho a percorrer que só outras gerações poderão assistir ao renascer desse país que tem tudo para vir a ser admirável, ainda que não seja para nós, quem sente o fervilhar dessa terra, voltará por certo com uma sensação de missão cumprida por ter dado como for possível o seu contributo numa altura dura e difícil. Se fosse bom não se vacilaria tanto e mais ainda se aventurariam. Eu tenho um lema: Um dia de cada vez e é com ele que vou aí desembarcar. O mais difícil vai ser não me deixar embrutecer no meio de tanta contingência e incongruência que sei que vou encontrar. Tenho essa terra como tatuagem gravada no peito e uma esperança enorme de a ver evoluir com menos corrupção e mais civismo.
Angola já foi um paraíso de vida selvagem.
Infelizmentes, agora há demasiados selvagem no paraiso…