Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

19  04 2009

O fio de Ariadne

A Administração da Maianga tem andado a fazer obras nalgumas ruas em volta do nosso escritório. As obras eram necessárias, mas ninguém podia adivinhar que demoraria mais de seis meses para ainda mal terem começado uma das ruas principais.

Os cortes de trânsito passaram a ser diários, enquanto faziam passeios e valetas novas. Nas horas de ponta lá deixavam os carros passar. Mas isso apenas fazia com que nas ruas circundantes a hora de ponta durasse o dia inteiro. Depois cortaram definitivamente a rua. Era necessário construir o sistema de esgotos. Durante cerca de dois meses, máquinas e homens labutaram no que parecia ser sempre o mesmo buraco.

Habituámo-nos a procurar novas rotas para regressar a casa, evitando a rua cortada e todas as alternativas em volta. Na verdade, até já me tinha esquecido daquele caminho.

Um dia, mesmo sem esta rua estar acabada, cortaram outra, mais importante ainda. A única rua que nos permite chegar ao escritório fechou para obras. Ao contrário da outra, que ainda tinha umas horas por dia em que se podia circular, foi fechada durante toda a duração das obras. Alternativas, não há!

Os moradores começaram a reclamar com os operários que passavam «Começam, mas nunca acabam. É sempre a mesma coisa»! Até as zungueiras de bananas reclamam pela perda do negócio. O engarrafamento ao final do dia permitia-lhes vender muito sem sair da porta de casa e agora não há carros.

Agora, para chegar ao escritório é necessário contratar uma Ariadne que nos estenda um fio pelos becos e ruelas do Cassenga e Prenda. Há um caminho estreito e sinuoso pelo meio das casas todas iguais, mas todas diferentes, do Prenda que nos leva até à portaria. Para lá chegar, é necessário percorrer sítios esquisitos e testar a nossa perícia em evitar sentidos proibidos (mesmo os que não estão sinalizados).

Vamos lá ver quanto tempo estaremos nós isolados do mundo…

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

2 respostas a “O fio de Ariadne”

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  1. Até que enfim, acho muito bem que reconstruam o sistema de esgostos. Bem precisam, mas é por toda a cidade não só pela Maianga.

    Boa sorte por esses caminhos 🙂

  2. Hoje, num placard electrónico no IC19:

    Trânsito cortado entre o Terreiro do Paço e Ribeira das Naus

    (bolas, isto é que é avisar com antecedência)

    Ontem, hoje e amanhã, à entrada de qualquer rua cortada em Luanda:

    DESVIO ->

    (em português corrente: agora desenmerdem-se).

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