Desabafo
Afonso Loureiro
Há coisa incompreensíveis. Passam-se semanas em que os comentários chegam a conta-gotas, mesmo com artigos que espero levantar alguma polémica.
Mesmo nos tempos em que uma criatura andava por aí a aterrorizar os blogues de Angola com promessas de violência e de coisas desagradáveis, nunca bloqueei a publicação de comentários aos meus artigos. Bom, na verdade, retirei um do Sr. Keinteressa porque tinha excedido largamente o seu tempo de antena. Mas esse já não andava a comentar, andava a chatear.
Certo dia, vou a caminho do escritório e vejo um cão ser atropelado. Graças ao instinto, safou-se com vida e uma valente dor no corpo. O candongueiro que o atropelou nem se dignou a tocar nos travões, quanto mais olhar para trás. Infelizmente, já vi muitos cães ser atropelados em Luanda. Grande parte deles acaba por morrer no meio da estrada, de uma forma muito feia.
Publico este pequeno relato da minha vida em Luanda e não é que sou linchado? Até me acusam de racismo por ter descrito, friamente, um cão ser atropelado. E aqueles que viram o cão ser atropelado não do outro lado da avenida, como eu, mas aos seus pés e nem se dignaram a parar? Esses são o quê? E os que perseguem os cães à pedrada?
O que é bom do insulto baixo é que não podemos responder na mesma moeda. Assim temos a garantia de que não descemos ao nível “do chão sujo que pisamos e não merecemos”…
Que discordem, muito bem. Que achem que sou a pior pessoa do mundo, melhor ainda. Agora que sejam mal-educados e mal-criados é que já é forçar um pouco a mola.
Pronto, já passou.
Fiquei surpreendida com os comentarios..Continuo a achar que as pessoazinhas que o insultaram não leram bem o que escreveu.
É horrivel ver um animal em sofrimento e não poder fazer nada.
Mas como disse no post anterior, em Angola a realidade é bastante diferente.. Os motoristas de candongueiros sao uns animais e esses que perseguem os pobres animais com pedras igualmente o são. Enfim.
Não faça caso do que lhe escreveram..gostava de os ver em pleno transito de Luanda e o que faria se se presenciassem uma situçao dessas.
Relativamente aos comentários chegarem a conta-gotas, da minha parte, acabo muitas vezes por não fazê-los porque a minha escrita não chega ao nivel da sua nem de longe. Contudo todos os dias leio o seu blog. Tornou-se habito, pouco depois da meia noite, ler o que escreveu para esse dia.
Deve ser isso…as “pessoazinhas” leram mal, Daniela! É tão giro dizer que os outros insultam e a seguir chamar “pessoazinhas” a esses outros…ainda me vai explicar esse termo, porque se calhar também não percebi bem!
Eu não sei o que é o trânsito angolano, apenas imagino e não tenho interesse nenhum em conhecer…mas se presenciasse a situação não iria descrevê-la como se de um espectáculo de circo se tratasse, isso não duvido!
Cara Dina Silva,
Preferiria que tivesse descrito o ar de satisfação do condutor do candongueiro quando acertou no cão?
Isso seria apenas um acrescento à sua descrição, caro Afonso…nada que me surpreendesse.
A sua pergunta (despropositada), assim como a sua atitude de desdém para com as apreciações ao que descreveu só demonstra que de facto não tem a menor preocupação para com o que viu…caso contrário pediria desculpas às pessoas sensíveis aos animais e à descrição que fez e não tomaria a atitude arrogante que tomou desde o início!
Quanto ao que eu prefiro…prefiro apenas que todos os seres sejam respeitados! Simples, não é? 😉
E agora, com licença, que vou ali tratar de fazer algo útil pela sociedade…
Ainda estou para saber de que modo poderei ter ofendido as pessoas mais sensíveis.
Provavelmente ofendi aquelas que vivem numa redoma e fingem que tudo o que as choca não acontece…
Quanto à minha preocupação, julgo que ainda não tenha percebido que se não me preocupasse, nunca teria referido este episódio de Luanda.
Leio o seu blog … diariamente. E isso já diz muito do que penso da sua escrita. Já o disse anteriormente … a forma como escreve, transmite sentimentos. Qualquer um pode ver que é uma pessoa de bem, sensível, preocupado como o mal dos outros.
Custa-me perceber o fundamentalismo que hoje grassa pela nossa sociedade, fazendo com que certas pessoas vejam as coisas pela frincha de uma janela.
Cara Dina Silva … Vá fazer algo de útil, de facto. O mundo precisa.
Caro Afonso:
Acabei lhe conhecendo graças a uma amiga em comum (M. Jo., do Seguindo Adiante).
Rapaz, que blog bom e bonito o seu! Conteúdo, imagens… todo high-tech, uma belezura mesmo.
Gostaria de saber se posso “levar” alguma coisa daqui para a minha rede furada. Uma parcela expressiva das minhas postagens são oriundas do meu recorte pessoal sobre a gigantesca massa de informação na blogosfera.
Com o devido crédito, naturalmente.
Obrigada, e parabéns!
olimpia
Caro Afonso,
Deixe que os “inspectores” desabafem! Como dizia a minha avó, eles calarar-se-ão.
Os meus cumprimentos… e força!
elmiro
Nao sei se algum destes comentário foi de algum Angolano…mas creio q a maioria dos “reclamantes” realmente NAO ENTEDEU o q leu!
bem, eu como Angolana e Caluanda, nascida e criada, posso afirmar que sim, também já vi cenas do genero dessas q o Afonso tristemente presenciou e transmitiu aqui..:(
sempre tivemos animais em casa, essencialmente caes, e lembro muito bem que quando chegava o dia de levar o cao ao veterinário e desembolsar uns tantos usd os nossos amigos, ficavam surpresos, pq dar atenção a um cão? pq gastar dinheiro com um animal..?era simplesmente incompreensivel e impensavel para a grande maioria!
em Africa- n querendo fazer generalizacoes é claro- e Angola nao é excepção dá-se muito mais valor a vida humana do que um animal, alias nem a vida humana se dá assim tanto valor,enfim…
qtas vezes n vi a caminho da escola, miudos a baterem em caes ou a perseguir algum gato e os adultos parados e impávidos e muito serenos a rirem e acharem aquilo um alegre festival de violencia gratuita..:(
qtas vezes n vi caes a serem atropelados e os condutores a n se darem ao trabalho de sequer olharem pra tras?
hj em dia, apesar de haver alguma preocupação em criar leis de protecção ambiental por ex, Angola ainda tem um longo caminho a percorrer no que diz respeito a alguma consiencia social..seja ela no q diz respeito a sua cultura, historia, etc…
eu já disse aqui um dia, q um país precisa conhecer e entender a sua historia do passado e do presente para poder entender e perspectivar um futuro melhor…concerteza q vamos lá chegar, graças a esperança que nos acomapanha!
Sou leitora assidua do blog, e normalmente qd o texto/imagem me agrada,deixo sempre um comentariozinho pequenino..esse texto hoje n me agradou nada, mesmo nada!
mas nao podia n deixar o meu comntario!
Afonso continue a escrever posts provocatorios ou não, mas nao deixe de transmitir o q lhe vai na alma por essas suas andanças Angolanas, um dia ainda pode fazer um livro, quem sabe…
Kandando!
Alguns comentários ao post anterior e a este podem ser inseridos num dicionário de expressões, em frente de ‘iliteracia funcional’.
E tens razão, Afonso. Os kaviris mwangolés são desenrascados e artistas, fruto de a necessidade aguçar o engenho.
Caro Afonso
Leio o seu blogue quase diariamente e admiro o realismo descritivo com que escreve que nos faz sentir como se estivéssemos no local a ver o que está a acontecer. Parece-me que houve interpretações “estranhas” do seu post acerca do atropelamento de animais. Nele não vi nem racismo nem desprezo pelos animais. Entende-se perfeitamente a sua revolta pelo que acontece e a admiração pelos animais que mesmo assim sobrevivem. Continuarei a passar por aqui.
Boa estada em Luanda
Credo! O que um post que relata uma realidade pode fazer!
A profundidade crítica do post foi completamente distorcida.
Eu nem acompanho este blog desde o ínicio, mas basta ler um pouco para perceber que quem o escreve não merecia mesmo que lhe trocassem as voltas ao texto. Haverá bons escritores, bons observadores que não se foquem exactamente nas situações que vivenciam aproveitando para tecerem as críticas sociais do que mais lhes toca?
Eu pasmo! Há dureza na descrição porque o que se descreve é duro e brutalmente incomodativo. Fazer o quê quando em inúmeras situações não está ao nosso alcance mudar o rumo e numa impotência angustiante ou se pira ou se encaram as contingências e limitações e até se sabe ironizar para não fundir a cuca!
Siga, que há por cá quem bem precise dos seus aerogramas que no meu caso de certeza me vão ajudar muito a estar mais preparada para uma chegada que anseio mas também temo.
Caro Afonso
tembém eu, há muito que leio diariamente e sempre com muito interesse o seu blog, a partir de Lisboa (apesar de só ter deixado um comentário).
Mas hoje de facto apetece-me escrever…
e (re)dizer para não conhece realmente Luanda que esta cidade é um caos em trânsito, e os seus condutores muitas vezes parecem artistas, pela positiva: pela paciência que é preciso ter e também pela agilidade necessária para enfrentar todos os obstáculos que surgem na via (e se estiverem a transitar pela via, pois quantas vezes os pseudo passeios estão transformados em faixas de rodagem…). Mas em Luanda (e um pouco por toda Angola)muitas vezes se assiste a uma agressividade atrás do volante, que é bom que quem circule a pé esteja sempre bem atento, pois tantas vezes parece que estão a jogar estilo lotaria, a ver se acertam em algo..pessoa…animal…ou objecto…já para não falar dos condutores embriagados…
e desculpem lá mas comparar o trânsito e a condução em Luanda com qualquer outro sítio de Portugal…parece completamenet brincadeira…Diz quem conhece que caótico como Luanda só em Deli, na Ìndia…(conheço Luanda, mas não Deli).
Sobre os posts: o Afonso escreve!
E tem a coragem de nos transmitir o que vê, o que pensa e o que sente….Não o conheço mas não penso que tenha qualquer pretensão de Nobel, nem me parece que seja mandatário de qualquer organização,defensora seja do que for, etc…
se descrever a realidade incomoda tanto alguns leitores, então aconselho a fazerem uma viagem a lugares como luanda onde em cada passo que se dá é impossível ficar indiferente face às dificuldades da vida das gentes que lá habita, indiferente às desigualdades sociais e à falta de condições.Mas onde tb se descobre alegria da vida, na simplicidade…
O Afonso escreve-nos histórias sobre lugares, gentes, transmite-nos a realidade a partir das suas experiências, dos seus olhos, do seu coração.
Ele está lá e partilha connosco.
reli o posto sobre o duplo atropelamento e não o acho insensível, antes pelo contrário, penso que só alguém que fique verdadeiramente incomodado é capaz de o escrever.
o mundo não é (só!) cor de rosa..
Obrigada Afonso e continue a escrever, como até aqui.
FR
Confesso que não entendi as reações adversas ao seu post. Reli o texto algumas vezes para ver se conseguia encontrar o motivo, mas nada … Acho que hoje em dia as pessoas buscam o que querem ver e não o que está escrito.
Infelizmente, acredito que em quase toda Africa a relação com os animais domésticos (não há como falar em estimação) é assim mesmo. Aqui em Cabo Verde nunca vi os motoristas procurarem atropelar o animal, mas acho bem provavel que não desviem. Como gosto de animais, quando cheguei aqui me chamou a atenção a quantidade de cães de rua. Descobri que na verdade a maioria deles têm dono, mas este prefere deixar-los vagando pelas ruas, procurando restos de comida nos contentores de lixo. Consta que há um certo controle, uma carrocinha, que apanha os animais na rua. Os doentes são sacrificados e os sadios são esterilizados (tenho minhas dúvidas) e soltos. Em algumas cidades o controle é feito por meio de envenenamento. Corre a boca-pequena que em determinado dia irão colocar “bolo” na rua. Quem estima seu animal que tranque dentro de casa por alguns dias. No condominio onde moro não consigo lembrar de nenhum cabo-verdiano com algum animal de estimação. Em casa temos dois gatos, vira-latas, adotados ainda no Brasil. Se lá, todos ficavam admirados com o fato de gastarmos dinheiro para trazer os dois pra cá, imagine a reação dos cabo-verdianos? Isso que a maioria pensa que as rede de segurança que temos nas janelas são para evitar ladrões, imagina se descobrem que é para evitar acidentes com os bichanos? Ok, tem meu filho também. 🙂
Afonso,
Não ligues a essa gente. Quem segue o teu blog e quem conhece África (e outras partes do mundo) sabe que ainda há uma evolução de mentalidades a fazer, começando pela dos leitores…