Duplo atropelado
Afonso Loureiro
Os cães angolanos têm todos um ar um bocado parado. Raramente os vemos a correr ou a fazer alguma coisa que não seja dormitar ao Sol. Pensando bem, os cães do resto do mundo também são assim… o melhor exemplo é o rafeiro que dorme no quintal lá de casa. Os de cá talvez sejam um pouco mais apáticos. A relação das pessoas de cá com os bichos é diferente.
Mas o ar parado não quer dizer que sejam estúpidos. Já perceberam que a maioria das pessoas com quem vivem não os grama. Tolera-os até ao momento em que lhes apetece distribuir um pontapé ou uma pedrada. É comum ver cães a fugir de rabo entre as pernas, perseguidos por miúdos pouco maiores que eles com paus e garrafas. O facto de dormirem com um olho aberto já tem salvo muitos de encontros imediatos com um calhau voador ou uma chinelada maldosa.
No meio de tantos cães atentos, há sempre um ou outro que escapa. Este tipo reconhece-se facilmente porque insiste em dormir na berma da estrada com ambos os olhos fechados. Já deviam saber que os condutores angolanos só tentam não atropelar peões, mesmo assim sem grande convicção e só porque dá muitas chatices atropelar gente. Tudo o que mexa e não reclame muito, quase pode contar com uma guinadela estratégica só para a roda ficar mesmo alinhada com o lombo. O curioso é que muitos destes sobrevivem largas semanas a desafiar a morte, sentido as rodas dos candongueiros passar-lhes a poucos palmos do focinho.
Outros, que também gostam de dormitar na berma, preferem fazê-lo entre os carros estacionados. Ninguém atropela gente ou bate em carros estacionados de propósito. É bem mais seguro e sempre há alguma sombra para variar.
Desconfio que todos eles conhecem a inevitabilidade de ser atropelado. Apenas os mais novinhos se podem orgulhar de não ter cicatrizes com o símbolo da Toyota. Lenhos na cabeça, cortes no lombo, patas partidas, caudas amputadas são a história de vida de milhares deles. E depois vêm as moscas pôr-lhes ovos nas feridas das orelhas…
Que bem se dorme aqui
A caminho do trabalho ouvi o já familiar baque seguido por latidos e ganidos compassados. Mais um que foi atropelado, pensei. Contava que o carro seguinte acabasse o serviço, mas fui surpreendido por manobras acrobáticas por parte do atropelado. Contorcia-se e rebolava em direcção à berma. Cada ganido equivalia a meia rotação do corpo. Primeiro as patas da frente, depois as de trás. O animal parecia estar dobrado em ângulo recto, mas rebolava como uma bola.
Cá para mim, era duplo de cinema e tinha treinado aquela manobra umas centenas de vezes. A pancada não deve ter sido meiga, mas o instinto salvou-lhe a vida. Só espero é que a recuperação seja rápida, porque seria uma pena perder um artista destes.
sem comentários!
voce é um ser desprezivel, nao merece o chao sujo que pisa!!
desejo que tudo, mas tudo mesmo que fez de mal a animais lhe aconteca duas vezes pior!!
a todos como voce desejo a pior sorte e morte possivel e imaginaria.
reduza.se a sua minima insignificancia e ponha a mao na consciencia.
os caes sao seres com sentimentos!!!
mas para “coisas” como voce (porque nem pessoas merecem ser chamadas, pois nao o sao) deve ser algo dificil de entender.
é mizeravel que ainda existam coisas assim.
passe mal, muito mal..
um dia pode ser que ao volante m encontre a mim, e a sua posiçao s inverta.
engenheiro de que?
da parvoice???? lol
o curso foi tirado onde? com este nivel de pensamento devia ser curso por telefone…
E se fosses chamar parado ao CAR****….
Deves ser tu mto activo, pra ouvires o tal “baque” e nada fazer, seu anormal…
Se fosses tu a levar o tal “baque” sempre gostava de ver a tua rapidez,força e esperteza pra t arrastares pró canto, coisa que o desgraçado teve…
Faz qualquer coisa de útil por ti abaixo…
Vi um gatinho ser atropelado ontem. Recém nascido. Acho que saiu de um contentor de lixo. Deprimente.
é incrivel!!pena que a sua capacidade artistica esteja a ser desperdiçada a relatar e gozar com situaçoes destas..
Espero que nunca tenha um fim como este “artista”..que nao teve ninguem para o acudir enquanto fazia as suas dolorosas “manobras acrobaticas”.
Daqui fala uma pessoa que luta diáriamente contra o sofrimento animal e indiferença por parte do “ser humano”.
Sem mais..
É arrepiante a maneira como descreve o que acontece com os cães quando são atropelados ! pela sua escrita dá também a entender que é uma pessoa fria e também racista !!!
acabo com uma velha frase que cada vez mais uso…” quanto mais conheço as pessoas , mais gosto dos animais “
Para todos aqueles que não perceberam, EU NÃO ATROPELEI O CÃO!
Se o tivesse feito, acham que tinha observado a cena toda? Para não variar, foi um candongueiro.
E se estão muito preocupados por não ter ajudado o cão, desculpem lá qualquer coisinha por não ter atravessado duas filas de trânsito e arriscar-me a ser também atropelado.
O cão sobreviveu graças ao instinto. Ficou na berma, protegido de mais anormais do volante. E não, ninguém se preocupou com ele, só o Pula, que ficou de coração apertado.
E já agora, cara Isa, o que a leva a dizer que sou racista? É por ter cão e não ter achado piada a ver um ser atropelado?
Não sabem ler?? Aprendam a interpretar correctamente antes de insultarem as pessoas..:O
Pobres animais..mas é outra realidade em Angola..
Os motoristas de candongueiros nao querem saber de nada..alias so querem saber do carro, desde que nao amolgue a chapa e que ande pra eles ta tudo bem!
Pelo facto de relatar de uma forma um tanto ao quanto “agressiva”, não induz que seja uma pessoa fria. Apenas está a descrever.
Mal tratar os animais é aquela coisa que me choca muito, que me doi. Pena nem todas as sociedades serem evoluidas ao ponto de respeitarem os animais e lhes darem condições de vida e saud agradaveis. Por diversas experiencias que passei na vida, percebi que a muitos cães são mais educados que os proprios donos e que por vezes só lhes falta falar.
Afonso,
Há muito que admiro a inteligência da sua escrita, os relatos das suas experiências. Por falta de tempo não leio tão assiduamente como gostaria, mas hoje não posso deixar de comentar este post! A forma como descreve este triste acontecimento é de um realismo sentido e pertubador. Imagino a sua revolta! Mas que atitude tomar perante uma situação que se abomina e que nada se pode fazer? Não está ao seu alcance castigar o criminoso nem tão pouco socorrer a vitima, o que resta então? Denunciar o criminoso e enaltecer a capacidade de sobrevivência da vítima usando esta arma poderosíssima que é a escrita, na tentativa de despertar consciências. Infelizmente, pelas prontas e ofensivas respostas que li, vai demorar muitos anos ainda …. Mas Afonso, nunca desista, se puder! Um abraço.
Afonso…
Acompanho sempre o blog… comento menos do que deveria 🙂
Mas nunca tinha visto tantos comentários babacas (creio que ai seria PARVO) sobre um post… obviamente, um dos defeitos do ensino da lingua portuguesa é não ensinar a interpretar textos…
Aqui em Cabo Verde, infelizmente, os cães são tratados da mesma forma… eu nem de cachorro gosto e me compadeço da situação…
“obviamente, um dos defeitos do ensino da lingua portuguesa é não ensinar a interpretar textos… ”
Não sei qual foi a língua que o João Marcelo aprendeu, mas na minha escola aprendi muito bem a interpretar textos…e a ler nas entrelinhas!
E com certeza não vai ser um engenheiro que acha que sabe escrever que me vai fazer acreditar que “interpretei” mal..eu percebi que não atropelou o cão, Afonso, assim como também percebi que não vai impedir a realidade de Angola!
Agora descrever a luta dos animais nesse país da forma que descreveu denota prazer e escárnio pela situação dos animais, NUNCA compadecimento!
Por isso, deixe-se de ironias, porque a mim não me vai convencer que a situação o incomoda…
Cara Dina Silva,
Se a situação não me incomodasse, nem me dava ao trabalho de a relatar. Lamento que julgue que gosto de ver animais sofrer.
Será que acredita mesmo que andar a correr pelas ruas a pedir por favor para não atropelarem os animais vai resolver alguma coisa? Gostaria de a ver na mesma situação.
Como quer que descreva como os animais são tratados em Angola? Que lhes fazem festas em vez de lhes darem pontapés? Que os estimam em vez de lhes atirar pedras? Que os alimentam decentemente em vez de os ter a rondar os montes de lixo? Gostaria que assim fosse, mas a realidade é esta: os animais são muito maltratados em Angola!
I M P R E S S I O N A N T E !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Tem que guardar. Ctrl+C e Ctrl+V
” já deviam saber que os condutores angolanos só tentam não atropelar peões, mesmo assim sem grande convicção e só porque dá muitas chatices atropelar gente. Tudo o que mexa e não reclame muito, quase pode contar com uma guinadela estratégica só para a roda ficar mesmo alinhada com o lombo.”
-chamo a isto ser racista ! porque razão os condutores angolanos serão diferentes de um portugês , ou de outro pais qualquer ? por acaso tembem nós não fazemos asneiras ?
-mas continuo a dizer que o que mais me arrepia é a maneira fria e até com certo tom de gozo com que descreve o que se passa com os animais !claro que sabemos lêr e todos percebemos que não foi você que atropelou o cão , mas a maneira que descreve esta situação , entre outras , mostra o seu lado cruel…
Os condutores angolanos, especialmente os de Luanda são muito agressivos. Não interessa a cor da pele ou a língua que falam. Comparar condutores de Luanda aos assassinos que são os portugueses é como comparar os portugueses aos austríacos ou suíços.
Aqui já vi, vezes sem conta, carros e motas a desviarem-se para acertar num cão ou condutores a fazer razias aos vendedores ambulantes só para os ver correr. Os angolanos que me lêem não me deixam mentir!
Quanto à crueldade de cada um, fica ao critério de quem atropela os cães ou de quem se indigna porque os vê ser atropelados…
Dina e Isa,
E hfhdf, porque não, os que se escondem no anonimato também merecem resposta…
Já é quase cômico que só vocês leiam o texto e encontrem esse “subtexto” bizarro cheio de racismo e sadismo. Mas é trágico ver que insistem no erro…
Ler o texto e encontrar qualquer sentimento nas entrelinhas que não seja melancolia (que é uma sensação presente na maioria dos textos deste blog, que obviamente vocês começaram só agora a ler) e ainda querer gritar aos quatro ventos que sabe ler é até risivel…
E o pior é ainda admitir que NÃO TEM IDEIA do que o cara está falando, que não conhece a situação em Angola (na Africa toda, alias)!
Na boa, pede pra cagar e sai de mansinho…
😀 eu gostei do “pede pra cagar e sai de mansinho” 😀
No início também me impressionava bastante a forma como os animais eram tratados por cá, mas cedo me comecei a aperceber que os tratamentos para com os seres humanos não eram muito melhores, logo, a indignação que sentia quando via os camiões a fazerem pontaria aos cães (que ainda vi alguns) era incomparável à dos Prados aos vendedores.
Mas que ainda dá um aperto no coração… ai isso dá.
Olá Afonso
Sou um expatriado como tu e compreendo que tenhas alguma dificuldade em assimilar algumas situações que depares diariamente nesta terra.
Já li varias vezes o teu blog por curiosidade e não encontrei nada que não se tenha passado contigo que não se tenha passado comigo , até mesmo bem pior do que aquilo relatas neste post, em particular no que diz respeito aos animais inclusive perseguições.
De qualquer forma e independentemente do que senti em relação a essas situações gostava que te interrogasses a ti próprio até que ponto temos o direito de impor valores a outra cultura .
Cada povo cada pais têm a sua próprias tradições e valores.
Por este tipo de abordagem impérios como os USA invadem países alegadamente para os civilizar ou tornar democráticos ,será a democracia americana igual á europeia?
Quem nos disse que a monogamia é o melhor sistema ? Quem nos disse o que é o bem e o mal?
A tolerância é um principio que parece que falta no mundo inteiro e deve ser cultivado em especial no contacto com outras culturas diferentes da nossa , isso é a base do entendimento baseado no respeito.
O sofrimento por outro lado é um conceito que existe em todas as culturas actuais ou passadas e isso é sem duvida a real imagem do mal , isso não pode ser pode ser escamoteado.
De qualquer forma e voltando à questão dos animais já pensaste por exemplo que dado que não existe recolha de cães vadios sejam as próprias pessoas a mata-los pois são transmissores de doenças dado o estado lastimável de saúde em que se encontram? Tudo pode ter uma razão…e muitas vezes aquilo que vemos tem mais por trás do que imaginamos.
Espero que tolerem este texto… pois não quero alterar a opinião de ninguém em relação a nada apenas e só expressar uma ideia .
Não é minha intenção impor culturas, hábitos ou valores meus aos angolanos. Aliás, tenho perfeita consciência de que sou estrangeiro e que há grandes diferenças civilizacionais entre os portugueses e os angolanos.
Quanto aos cães, até admitiria que as pessoas os matassem para prevenir doenças, mas a cena a que assisti não foi de alguém a tentar matar um cão, foi sadismo. Atropela-se o cão porque sim e não interessa se vive ou morre ou se fica apenas estropiado e mais susceptível a contrair as doenças que se quer evitar.
No entanto, e porque os valores são diferentes, não creio que haja um esforço concertado para matar cães por questões de saúde.
Talvez não exista razões para nada aqui …de qualquer forma lembro-te que ainda este ano assistimos a dezenas de mortes de crianças por raiva que como sabes é transmitida por cães…
No entanto talvez esteja a racionalizar demasiado as coisas…era apenas um candongueiro sádico e não alguém que tinha um filho morto por ter contraido raiva.
O que te quero dizer é que é muito difícil podermos fazer uma avaliação das atitudes e comportamentos das pessoas sem realmente sabermos as suas reais motivações .
Apenas e por isso deixo sempre a possibilidade para acreditar no melhor e não no pior.
Para a próxima se quiseres saber porquê pergunta ao taxista porque deliberadamente matou o animal…
Continua com a tua escrita pensa e em escrever um livro.
Fica bem.