Comunicando
Afonso Loureiro
Os meios de comunicação em Angola surpreendem-nos todos os dias. Umas vezes é pelos seus imensos contrastes, outras vezes é com a normalidade com que passamos a encarar certas coisas.
Desde que comecei a escrever regularmente que me tenho sentido um pouco constrangido com a falta de fiabilidade do serviço de internet. A princípio, o que mais estranhei foi a velocidade de acesso. Aqui ainda se mede a velocidade em kbps. Depressa passamos a rejubilar com este conta-gotas de informação porque sempre é melhor do que quando as luzes do modem se apagam, numa tentativa de imitar a electricidade e a água de Luanda.
Toda a gente anda de telefone móvel. Dois, pelo menos, porque é pouco provável que alguém consiga fazer uma chamada à primeira para qualquer um deles. Há demasiados assinantes para a rede e, como os telefones funcionam mal, as pessoas compram mais telefones, agravando ainda mais as coisas.
Os telefones móveis, ou terminais, como são por aqui chamados, são tão omnipresentes que poucos se lembram que ainda há alguns telefones fixos a trabalhar no país. São tão poucos que temos de os encarar como uma relíquia e tratá-los com a reverência que uma máquina de telex nos mereceria, por exemplo. Olhamos para eles como se alguém usasse pombos-correio em vez de mandar mensagens de texto.
A transição para a telefonia celular foi tão abrupta que quase acreditamos nunca ter existido um único telefone fixo no país. Até as empresas importantes quase sempre indicam apenas um número móvel. É quase um sinal de status poder entregar um cartão de visita com o indicativo de Luanda, o 222. As linhas são ruidosas e, quase sempre, nos apetece ter ligado para o celular…
A confusão dos nomes das ruas fez até as transportadoras internacionais mais persistentes desistir da sua missão. Quem espera receber uma encomenda, é melhor começar a contar ir levantá-la aos armazéns da transportadora, que eles não fazem a mínima ideia de onde fica a morada.
Os Correios de Angola também não entregam cartas. Não há carteiros e as cinquenta a oito estações de correio espalhadas pelo país não garantem uma cobertura eficaz, muito menos quando uma dúzia delas está em Luanda. Os Correios limitam-se a gerir apartados e pouco mais.
O hábito de mandar cartas perdeu-se. Hoje em dia, o e-mail faz as vezes de postal ilustrado. É uma solução deselegante e sem charme nenhum, mas foi o melhor que se encontrou resolver o problema. A solução poderá ter ido um pouco longe demais, porque se achou que o inverso também era verdadeiro. Hoje em dia, em Angola, enviam-se cartas por e-mail e, o que é mais curioso ainda, e-mails por carta. Para um apartado, claro!
E-mail dos dias em que a net falha…
Eu ainda fiz a experiência de tentar enviar um postal ilustrado.
Escrevi umas letrinhas, coloquei a morada, colei um selo e resultado final perdeu-se no espaço uma vez que nunca chegou à tua morada.
Seria interessante saber o que é feito desse postal e de outra correspondência que chega a Angola.