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11  05 2009

Histórias de telhados

Uma volta por Luanda, olhando os telhados e o céu, é uma actividade perigosa. Afastar os olhos do lixo do chão é arriscar enfiar a pata numa qualquer poça cheia nem queremos saber de quê.

Não são só desvantagens. Os telhados das casas também contam histórias engraçadas. Ou, pelo menos, contam como mudou o mundo por estas bandas.

Hoje, cada fachada está salpicada de máquinas de ar condicionado, que pingam na rua, ou crivada de buracos e remendos. Cada telhado ostenta a sua dúzia de antenas de todos os feitios, tamanhos e estados de conservação. Há antenas de ondas curtas tombadas, antenas de televisão torcidas e muitas, muitas antenas parabólicas para captar as transmissões via satélite. Destas últimas, há milhares fora de serviço. Grandes antenas colectivas, quais passadores de lata que avariaram e nunca foram reparados. Muitos outros milhares de pequenas antenas brancas, exclusivas de cada casa, espalham-se por todo o lado. E quando avariam, põem-se uma nova. Se a velha incomodar, talvez se retire…

Os telhados de Luanda escondem muito mais que sucata tecnológica e poluição visual. Há também as cadeiras velhas, as pedras e os buracos. De vez em quando encontramos umas pérolas, sinais de tempos que parecem bem mais longínquos do que realmente são.

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Desde quando soa esta melodia?

Hoje em dia, quando se vê um telhado, pensa-se logo na maneira de lá instalar a parabólica. A atracção dos milhares de canais em línguas avulsas exerce um fascínio semelhante ao da Torre de Babel. Infelizmente, nunca passa nada de jeito.

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Antes das parabólicas

No antigamente, não havia televisão. Mas os telhados existiam e havia quem os julgasse um pouco despidos. Alguém se lembrou de usar cata-ventos!

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De sentinela

São instrumentos muito úteis, para quem gosta de saber para onde sopra o vento sem ter de sair de casa e apanhar com ele na cara. Tirando os pescadores, os moleiros e mais um ou outro curioso, não passam de uma solução à procura de um problema ou de um objecto de decoração disfarçado de máquina útil.

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Gato em telhado de zinco quente

Suponho que o primeiro tenha sido desenhado por um engenheiro e tenha indicado a direcção do vento apenas com uma flecha. Lá pelo meio vieram os artistas e subverteram completamente a coisa. Os cata-ventos deixaram de indicar a direcção do vento com um boneco engraçado, passou a ser um boneco engraçado que se move ao sabor do vento. Nalguns casos, ainda sobraram os pontos cardeais. É pena que estejam quase sempre a apontar para direcções esquisitas…

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Sinais de um vento que já passou

O tempo dos cata-vento já passou. Terminou quando entrámos na época DP – Depois de Parabólica. Já não se querem ornamentos. Quer-se a MTV e a novela.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

4 respostas a “Histórias de telhados”

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  1. Essas raras figuras até que têm graça. 🙂

    E nunca vi tanto prato branco como em Luanda!

  2. Isso é tudo no mesmo telhado?

  3. Alguns são do mesmo telhado, embora de casas diferentes.

  4. Excelentes aerogramas estes! Se há coisas que adoro fotografar é telhados e cataventos. Desde pequena que subo aos telhados e quem o faz percebe concerteza que não há melhor local para se respirar uma sensação de liberdade mesmo que no meio do buliço das cidades. No caos e confusão de que Luanda se veste é como olhar os magníficos chapéus com que ainda se enfeita se desaparecer o resto do nosso ângulo de visão.
    Mais um punhado das tais memórias que o progresso a pouco e pouco vai apagando.
    É mesmo um privilégio ler tanto apontamento bonito que deixa por aqui.
    Vou chegar aí muito mais conhecedora dessa Luanda que não piso há vinte e tal anos. Vou lembrar-me muitas vezes de certeza de muitas coisas que vi e li através das suas palavras e imagens. Não imagina como foi importante este seu blog para me desembaciar o olhar e me esclarecer muitas dúvidas. A uns dias de ver voltar uma metade de mim que alguns meses separaram, vou pensando em si e em quem cá deixou à sua espera. A serenidade entre “dois” nas ausências, é mais suportável quando é possível preencher um espaço vazio, de aerogramas desenhados de vivências como tão bem faz neste pedacinho de net a que deu vida. Muitas felicidades para os dois que nem sei se aí terei tão cedo forma de poder continuar a acompanhar os seus relatos e descrições. Foi um prazer.

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