Lá para os lados da SAPU
Afonso Loureiro
O mais-velho chegou sem se fazer notar. Vinha ver o que fazíamos. Demos por ele quando começou a ler em voz alta o número de telefone da empresa, que temos nas portas do carro.
«Dois… Dois… Dois…»
Agachou-se e entreteve-se a copiar, um a um, os algarismos para a areia. Lia o número, escrevia-o e lia-o de novo. Acabou de escrever o número e voltou a ler os algarismos, lentamente. Acenou para si mesmo, como que satisfeito pelo seu trabalho. Por esta altura já nós olhávamos todos para ele, esquecendo a tarefa que tínhamos entre mãos. Os calções e a camisa assentavam-lhe mal no corpo ossudo e seco. Parecia uma criança, com roupas demasiado folgadas. Quase esperava que se sentasse nas cadeiras com as pernas a abanar. Só faltava ter uma bola debaixo do braço e o nariz ranhoso para se parecer com os miúdos que jogam à bola lá na rua.
Meteu conversa e reclamou dos assaltantes que agora rondava por ali. Falou do primo, que ainda era rijo e tinha andado à porrada com dois ladrões, ali perto. Tinha apanhado um enxerto, mas os bandidos também levaram para contar como foi.
A hora da despedida veio cedo demais para saciar a curiosidade, mas pode ser que tenha a oportunidade de regressar e continuar a conversa.
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